O Consorcio - Mario Luiz Tibiriçá Ramos

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O  Consorcio
Mario Luiz Tibiriçá Ramos

Marcio  bateu com força no relógio de ponto quando da entrada na firma onde trabalhava já há dez anos.

Estava irritado com seu baixo salario, frustração pelo desenvolvimento nanico da empresa, além da falta de entusiasmo pelo trabalho propriamente dito.

Já com trinta anos, casado com a Virna sua sempre namoradinha, ha já 2 anos, não via  mais, como  prosperar e meios para um desenvolvimento, dentro ou fora da empresa.

Formado em logística, ´programava todo o fluxo de entregas  de  mercadorias, desenvolvia planos para entregas rápidas, formulava propostas para a diretoria quanto a um desenvolvimento, enfim trabalhava muito.

Sonhava há muito em  ter seu próprio carro e agora estava sabendo sobre as novidades dos consórcios, uma nova forma para facilitar  e proporcionar a compra. Ainda não tivera a oportunidade de examinar tais planos e na verdade não tinha a menor ideia do  funcionamento de um consórcio. Estava começando a segunda metade do século vinte, mil novecentos e cinquenta, e eram muitas as novidades.
Já há dias conversara com Virna  sobre a  boa nova, e estava ansioso para conhecer tais planos.

 Já ligara para um destes consórcios, o Veicular, e solicitara um corretor. Assim mal sentara em sua mesa a telefonista o avisa que um corretor  de nome Lopes, estava na portaria e queria falar-lhe:

— Sr. Marcio, consorcio é um plano de financiamento, onde determinado número de pessoas contribuem para um fundo especial, que premia com um carro, aqueles que depositam o maior adiantamento, sob a forma de lance, e algumas prestações. Os lances não vencedores são devolvidos, o fundo cresce com as prestações, entregando sempre mais um ou dois carros mensalmente.

— Bem se realmente compreendi, tudo  gira em torno do lance não?

— Por  outro lado, o senhor escolhe antecipadamente o carro que  deseja, antes da  assembleia de distribuição.

O dia passou como sempre, e quando chegou em casa Marcio estava pronto para conversar com Virna sobre o assunto.

— É preciso conhecer bem esse tal de consorcio não? Porque  vamos pagar antes para receber o carro só depois....- disse Virna. Não podemos entregar todas as nossas economias sem ter a certeza que vamos receber o carro.

— Realmente - disse Marcio, porem ele já estava resolvido a dar o tal lance e adiantar algumas prestações.  Afinal já estava farto de coletivos e falta de mobilidade para passear e viajar.

O Ford preto 1949 brilhava intensamente na sala frontal dos escritórios  do Consorcio Veicular, um dos primeiros formados, já tendo entregue alguns carros. Sentado ao volante do carro, Marcio estremecia pela possibilidade  de ser contemplado.

Pelos seus cálculos, poderia antecipar umas seis  prestações e  fazer um lance de mais ou menos  dez mil cruzeiros,  pois sendo o carro no valor de dezessete mil, teria grande chance de contemplação, pois não queria correr o risco de perder a oportunidade.

No dia seguinte o corretor  Sr. Lopes, homem  falante e disposto, estava na empresa  para  fornecer todas informações  para  Marcio, além de explicar  o plano minuciosamente.

— A assembleia de distribuição será no próximo sábado no  ginásio do Pacaembu, por volta de  10 horas da manhã.

Sr. Marcio, vou lhe dar uma boa dica. Não deixe para  fazer o lance no dia da assembleia, faça-o na sexta  feira, bem como o  adiantamento  das prestações, pois serás cliente privilegiado.

Marcio apenas pensava no lindo Ford preto.

Na sexta, Marcio seguiu a recomendação fez o deposito do lance, as prestações  e foi para casa. Depois de mal dormida noite,   levantou cedo  e preparou-se para o grande dia no Pacaembu.

Virna nem quis ir.

No ginásio havia um grande  burburinho, gente por todo lado.

Certamente, mais de trezentas pessoas, nessa correria procurou Lopes para informar que havia feito o lance. Lopes garantiu-lhe o carro.

Às onze horas, um locutor avisou que a Assembleia seria  aberta em dez minutos. Marcio torcia os dedos, olhando no relógio cada dois minutos.

Eis que de repente sirenes em alto volume, invadem o recinto, com quatro carros de policia e uns dez policiais. O burburinho aumenta e o ar de suspense  inicia-se  com a entrada de policiais armados, em direção aos eventuais escritórios.

— Policia! Vamos prender esses ladrões, isso aqui é uma grande falcatrua.

Suando  frio, Marcio boquiaberto e estupefato, assistiu aos guardas armados adentrarem os escritórios.

Um guarda mais atrás informava que tinham recebido informações que tal consorcio era apenas fachada para banditismo.

Marcio  nem  ouviu o final, saiu correndo em  direção aos  escritórios da empresa onde estivera, mas teve nova decepção, estava tudo trancado.

Após as costumeiras declarações na delegacia, Marcio chorando, volta para casa humilhado, para dizer a Virna como foi ludibriado.

Sua segunda feira foi infernal.

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