Destino
cruzado
Paulo A Abrahamsohn
Maria das Graças morava
em uma pequena e tranquila cidade, com muitos jardins floridos e habitada por
gente amável. Tinha um bom emprego na residência de D. Eulália. Sua casa era pequena,
mas confortável, tinha um jardim na frente. Além de fogão e geladeira sua
cozinha tinha um liquidificador e um micro-ondas, os quais sempre tinham sido seus
grandes objetos de desejo.
Mas, por causa de um
súbito sacolejo Maria das Graças acordou assustada. Que pena! Foi apenas um
sonho. Ainda esfregando os olhos, espiou pela janela do ônibus e percebeu que o
veículo estava percorrendo uma avenida de duas pistas, plantada no centro por
coqueiros. Entre os coqueiros havia pequenos arbustos carregados com flores de
diferentes cores. Maria das Graças sentiu-se muito confusa, não reconheceu o
lugar. Viu as casas ao longo da avenida e de tempos em tempos um bar, uma
padaria, pequenas lojas e até uma floricultura. Na praça da Igreja o ônibus
diminuiu a velocidade e estacionou. O motorista gritou: vinte minutos para o
bar e depois continuamos.
Maria das Graças
levantou-se da poltrona e desceu do ônibus. Na calçada o motorista se
espreguiçava e com o lenço secava o suor do rosto. Maria das Graças perguntou:
- Moço. Já passamos por
Cachoeira de Santana? Acho que dormi e perdi meu destino.
- Não moça, disse o
motorista. Este ônibus vai para Santo Egídio, não passa por Cachoeira, é outra
linha. Não tem nada a ver. O que diz seu bilhete.
- Não sei moço, não sei
ler.
- Seu bilhete é de
Recife para Santo Egídio. Você comprou a passagem errada.
- Minha nossa! Respondeu
Maria das Graças perplexa. Eu ia visitar minha mãezinha que não vejo há dez
anos. Que lugar é esse? Como se chama?
- Olhe o que está
escrito naquela placa: Seja bem-vindo. Você está em Santo Antônio da
Felicidade.
Maria das Graças se
lembrou da vida amargurada que levava na cidade grande, trabalhando sem
descanso, indo para o serviço espremida em um ônibus quente e cheio de gente
suada, sem amigas e sem namorado e pensou: Santo Antônio da Felicidade, por que
não ficar aqui? Vou já pegar minha
trouxa que está no ônibus. Depois vou buscar minha mãezinha para morar comigo e
vou tomar conta dela. Quem sabe Santo Antônio me arranja um marido. E aí vai
ser uma felicidade completa.
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