BRAGUINHA - Antonia Marchesin Gonçalves


                       
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BRAGUINHA
Antonia Marchesin Gonçalves


                Quando morei no bairro da Vila Madalena era muito diferente de hoje. Poucos prédios, muitos sobrados, inclusive o meu na Rua Purpurina, os moradores eram antigos na Vila, normalmente portugueses ou descendentes. Antes de casar morei em Pinheiros por muitos anos, meus pais tinham amigos na Vila e íamos a pé visitá-los, passávamos pelas grandes casas do Alto dos Pinheiros, em seguida a Vila Madalena. Os três bairros eram ligados.

                Casada e já com dois filhos, costumava fazer compras pela Vila sempre a pé, no pequeno comércio que lá existia. Certa vez à tarde, passeando pela Rua Wisard com minha filha Renata, na época com três aninhos, passei em frente a um bar, quando ouvi uma cantoria que vinha lá de dentro. Nesse momento saiu do bar um senhor que aparentava seus 45 anos, segurou meu braço e disse: Posso falar com a senhora? Surpresa, logo respondi que não. Mas, ele insistiu me convidando, entre e venha cantar junto.

                Obrigada,  respondi, estou com minha filha e sou casada. Ele novamente insistiu, quero te conhecer, sou o Braguinha. Desculpe, preciso ir. E, segui meu caminho. A minha ignorância sobre a música brasileira na época era grande, não tinha noção de quem se tratava. Meses depois, quando já havia esquecido aquele assunto, reconheci aquele senhor que havia me abordado, ele estava em um programa musical na televisão, cantava ele junto com outros sambistas.

                Imaginei o que teria mudado em minha vida se eu estivesse sem minha filha e aceitado o convite. Será que eu iria morar no Rio de Janeiro? Viraria boêmia ou talvez compositora? Ritmo para dançar, sempre tive, mas compor seria bem diferente. Talvez, fosse mais uma conquista de um caso eventual para um compositor boêmio.


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