A ESQUINA
Sérgio Dalla Vecchia
Tantas são as esquinas, mas
existe uma intrigante no bairro onde resido.
Há mais de trinta anos passo
diariamente por ela.
É uma construção antiga de
dois pisos, onde ao nível da rua existe um comércio e no superior um apartamento
residencial.
Desde que me instalei no
bairro, até o presente, pude acompanhar a evolução das construções verticais de
alto padrão, bem como as do comércio se adaptando para tal progresso.
Nessa esquina havia um bar e
mercearia simples e no andar superior morava o dono com a família.
Para acompanhar à atual
conjuntura do bairro, o dono iniciou uma reforma, mas não chegou a usufrui-la,
foi assassinado no próprio local, levando com ele o sonho do progresso.
Nunca se soube o motivo de
sua morte, vingança, desentendimento com o pessoal da obra, dívidas, tudo uma
incógnita.
Foi brutal! Chocou toda
vizinhança na época.
Por tempos, vez ou outra
surgiam relatos de gemidos vindos da parte superior do imóvel. Houve gente que
mudava de calçada para não passar em frente.
Entretanto, após algum tempo,
um corajoso comerciante adquiriu o ponto e montou um armazém. Durou pouco, o
negócio não vingou!
Outros anos se passaram, um
novo empresário investiu numa bela padaria, moderna e bem projetada. Tinha tudo
para o sucesso. Também não foi para a frente!
Mais algum tempo, outro
investidor do ramo de eletrônica e afins surgiu. Montou seu negócio muito
discreto, portas fechadas, atendendo por televendas. Estranhamente pintou a
fachada com cores escuras de mau gosto, parecendo não querer ser convidativo
aos transeuntes.
Acontece que deste modo, o
negócio está funcionando normalmente há algum tempo, para espanto da
vizinhança.
Assim, com a esquina
descarregada, o bairro desencantou.
Parece que o falecido simpatiza
muito com informática!
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