UM ESPANHOL NA COPA
DAS COPAS
Oswaldo
Romano
Pablo
é espanhol, e como todo espanhol orgulha-se de bater no músculo do braço
esquerdo e bradar: Espanhol da Espaaaaanha.
Igualmente
fanático pelo futebol, torcedor do quase endeusado Barcelona, durante o ano foi
se entusiasmando com Copa do Mundo no Brasil. Armava-se para comparecer.
—
Pablo, dizia sua mãe, a imprensa fala todo dia dos assaltos, um perigo
constante naquele país.
—
Mãe, faz dez anos que trabalho na arena Las Ventas. Cuido dos touros mais
valentes do mundo. São valentes, mas todos morrem. Deu pra entender?
—
Nosso circo chama-se Praça dos Touros. É a verdadeira arena. Eles querem chamar os estádios de arena. Vou
lá ver se é de areia, assim é construída a verdadeira arena. Embarco dia 8 de
junho, dias antes da seleção jogar.
E
assim chegou o dia e Pablo embarcou. Dia nove já estava no Brasil, em Salvador.
Hospedou-se no hotel reservado pela agencia que lhe vendeu os bilhetes aéreos.
Quis
aproveitar os dias para conhecer a cidade. Caminhando pela Sete de Setembro,
apreciou as lojas, mas sentia forte cheiro de amônia. Quando pelo mesmo lugar
passou à noite, entendeu o porquê.
Recomendado
pelo recepcionista do hotel foi assistir a um espetáculo de danças e ficou
impressionado com o grupo que apresentou o frevo. Sua estadia estava
correspondendo as suas expectativas. Passou um dia no Rio onde um taxista
ciceroneou, levando-o nos principais pontos turísticos.
Ficou
encantado.
Ouvia
pelos documentários esportivos as glórias da seleção espanhola, a campeã do
mundo, La Fuerza Roja. Pomposo desfilava pelo hotel, orgulhoso, comentava com
motoristas de taxis, nos cafés, enfim, onde lhe era oportuno. Pablo sentia-se
muito feliz na terra cuja língua quase tudo entendia. Agradecia todas as noites
a dádiva de ter vindo . Não tirava a camisa da sua seleção.
Chegou
o dia do jogo. Queria ver a falada arena. Apresentou-se na entrada dos
turistas: Eu sou o Pablo, um espanhol autêntico. Trago o “sangue do meu sangue”
e hoje finalmente venho participar de uma festa grandiosa, tão esperada, quanto
a corrida do melhor touro da Espanha, o temível Islero o matador dos toureiros na
arena Las Ventas,
Pablo
se ajeita na cadeira. As equipes entram em campo. Do lado direito a campeã
Espanhola. Jogadores sóbrios, cientes das suas responsabilidades, iniciavam o
canto do hino nacional.
Pablo,
tão difícil foi chegar até aqui que não teve dúvidas: Com toda força dos seus
pulmões, aquele que gritou muitos olés, olé, olé, acompanhava o canto, querendo sobrepujar o
ensurdecedor barulho da multidão...
Gloria, gloria, corona de la Patria,
soberana luz
que es oro en tu Pendón.
Vida, vida, futuro de la Patria,
que en tus ojos es
abierto corazón.
Púrpura y oro: bandera inmortal;
en tus colores, juntas, carne y alma están.
E aqui Pablo
exagerou, abriu o peito...
Gloria, gloria, corona de la Patria,
soberana luz
que
es oro en tu Pendón.
— Começou o jogo, Pablo erguendo as mãos
gritava, pulava... Mas, por pouco tempo. Veio o primeiro gol do adversário, o
segundo, o terceiro. Pablo tirou a camisa. Ficou com a camiseta branca, sem
mangas. Veio o quarto gol, Pablo moveu-se, caminhou, mudou de lugar com a
camisa da seleção enrolada embaixo do braço. Sua equipe levou o quinto gol!
Saiu do estádio como saem os turistas da
sua arena, ao ver a sangria, a espada na nuca do exausto boi. Estes também não
querem assistir o tombo e a morte do touro.
Aiiiiii, tio.....arrasou.....muito bom......
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