O passado esquecido - Luisa Helena R. Alves


O passado esquecido
Subtítulo: Milagre II

Luisa Helena R. Alves

        Elza, como boa enfermeira, maternal e solícita, continuou ajudando Pedro, depois que ele sofreu um acidente.

        Perdido de sua memória passada, colocou em Elza toda a sua vida presente. Ela era para ele sua irmã, sua mãe e sua amiga inseparável.

        Mas, Elza  tinha dois filhos e um marido para cuidar, foi ficando cada vez mais preocupada com seu dia de 24 horas, que precisaria ser de 48 horas. Pensou muito e resolveu mandar pelo facebook um retrato do seu amigo,  procurando quem o conhecesse.

        Alguns dias depois recebeu uma mensagem de uma pessoa do interior da Bahia falando que conhecia uma família procurando por um homem que tinha vindo para São Paulo atrás  de emprego, e nunca mais dera noticias.

        Elza feliz e esperançosa achou o endereço da mulher de Pedro e pediu para que ela viesse com suas duas filhas.

        Pedro ficou ansioso com medo de não se recordar, mas alegre por pensar que não era só no mundo.

        Luzia chegou, e ele permaneceu olhando para ela por longo tempo até que, com os olhos marejados, abraçou-a e pode perceber o perfume que ela usava o que lhe trouxe  sensação de algo conhecido. E o perfume da mulher amada lhe devolve recordações do passado.

        As meninas também, com aquele cheirinho de criança após o banho, cada vez mais traziam de volta seu passado.

        Isso porque um jovem médico havia feito uma pesquisa, comprovando que a memória se reaviva quando ativada por sensações conhecidas através do olfato.

        Um verdadeiro milagre da ciência moderna e da sensibilidade de pessoas como sua amiga Elza capaz de uma generosidade incomum.

        Pedro hoje vive feliz com as “mulheres de sua vida” não se esquecendo daquela que foi a promotora de tudo...

        Resolveu trabalhar no interior mesmo, pois como sempre soubera consertar coisas de sua casa,  agora iria trabalhar consertando a casa dos outros.

        — Solidão, diz ele, só por opção como os monges que se dedicam às orações para ajudarem o planeta.

        Cada um com seu ofício, e encontrando o sentido de suas vidas.


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