PARECIA BOM DEMAIS - OSWALDO ROMANO


PARECIA BOM DEMAIS
OSWALDO ROMANO         
                                                                                               
         Alcides de Oliveira Godoy, esse é o nome do executivo desta história. Gerente da empresa, Live Well, - Viva Bem no Brasil,- há oito anos, sua missão era como gerente administrativo dar o parecer final dos funcionários classificados para os cargos selecionados.

         Viva Bem, um escritório internacional de seleção, que tem por princípio oferecer candidatos com pontuação de 98% aptos para o cargo desejado pelos seus associados. Estes com uma mensalidade simbólica arcavam para cada admitido, o valor igual ao primeiro salário, pago por contrato antecipadamente.

         Para as empresas é altamente compensável os préstimos da Viva Bem e para os contratados uma facilidade impar e confidencial, pois livra-os de serem expostos na praça a procura de colocação, sujeitos a queima dos seus nomes.

         Godoy recolhia para si 10% dessa receita, 2% destinavam-se ao entrevistador e o restante era assim distribuído: 2,325% aos funcionários do primeiro escalão e 0,355% aos demais. Para o Live Well ficava o saldo de 85,320%. Desse valor eram deduzidas as despesas administrativas variáveis em 14% e  recolhido para sua caixa de garantia como provisão 15%. Os restantes 56,320% eram remetidos para sua matriz de Zurique, na Suíça. Zurique é a garantia para os depósitos com sigilo bancário, o maior centro financeiro da Europa, amplamente resguardada do povo sob o manto da conhecida FIFA.

         Estava bom demais para Godoy. Melhorou de vez quando entrevistaram Neusa. Sua intenção era gerenciar um grande magazine, mas seu porte, formas perfeitas, seu narizinho emproado, caiu como uma luva, no goto do pretencioso Alcides de Oliveira Godoy. Procurava mostrar-se muito bem de vida. Neusa, diante de insistente convite, ficou na própria Live Well. O assédio do chefe foi instantâneo. Entre os demais funcionários, observadores à distância, discutia-se quem era que conquistava quem.

         Confirmado os interesses, começaram os preparativos para juntarem-se. Ambos vinham para uma segunda união. Godoi estava encantado, desmanchava-se. Comprou um apartamento em nome dela, noites regadas ao champanhe Cristal, viagens pelo Brasil no seu novo Porche Cayenne Turbo GTS.

         — Amor – disse ela – Vamos aproveitar suas férias atrasadas e dar um rolé pela Europa?

         — Puxa! Que ótima ideia! Aproveitando, na Suíça visitaremos nossa Live Well.

         Foi assim que iniciaram mais uma festiva viagem e Godoy diante daquela linda mulher, cheio do prazer de viver, abriu de vez seu cartão de crédito. As joias bem mais em conta do que as daqui, motivavam compras maiores. O mesmo acontecia com casacos e vestimentas nas lojas, Jelmoli, Globus, City Seeker. Godoy também não podia deixar passar em branco. Tinha que aproveitar e renovar parte do seu guarda roupa.

         — E a Live Well? Perguntou Neusa.

         — É verdade, não podemos deixar de ir visita-la- Respondeu Godoy.- Vamos a tarde, OK?

         Visitando a Live Well no luxuoso bairro de Kreis, depois de inteirados das novidades administrativas, foram convidados para um jantar no Kreis6. Neusa fazia boca para provar seu famoso soufflét com calda de chocolate. Deviam comparecer às 22:00 h.

         Inverno como estava, Neusa provaria um de seus casacos, e esperava abafar com a presença de sua beleza, adornada pelos seus anéis e seu vistoso colar.

         Dias depois da volta para o Brasil, Godoy recebeu a visita de dois profissionais da Live Well. Lá, ficou entusiasmado com a recepção dos suíços. Retribuindo, a noite ofereceu um jantar de nível, levando-os em um restaurante Vip.

         No dia seguinte, no escritório, discretamente perguntou:
         — Afinal a que devo a visita dos amigos?

         — Como de praxe a Well, por sorteio, faz uma inspeção anual em cinco unidades pelo mundo. Fique tranquilo, não vamos promover desordem em sua contabilidade.

         Quatro dias depois, voltaram para Zurique, era 21 de agosto de 2013. Na manhã de 28, uma semana depois do regresso dos dois emissários, o aguardava na porta da Viva-Bem um senhor alto, corado, que barrando sua entrada disse, alterado:

         — SIE SIND ENTLASSEN (O senhor está demitido). Estes homens vão levá-lo, são policiais. Converse com o delegado. Chego a seguir com advogados da empresa e as provas do seu roubo.

         — Roubo não!

         — Sim senhor, um desastroso desfalque!   



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