MUNDO
MALUCO O DA LUCY
OSWALDO ROMANO
É
nesse mundo maluco de hoje que se movimenta Lucy, e milhares de senhoras que
carregando seus cinquenta e tantos anos já viveram ficando saudades dos
chamados anos dourados.
Pena
que agora nos ônibus superlotados, acabou aquela gentileza masculina de
levantar-se e ceder o lugar a uma senhora. Naquele tempo até para um senhor
mais idoso, o jovem demonstrava esse respeito e educação.
Dona
Lucy tem passado constrangimentos viajando nesses transportes, aos solavancos e
superlotados.
E
aconteceu com ela. Espremida, de pé, sustentando- se na alça, viu-se incomodada
por um crioulo que por traz tirava partido dos trancos do ônibus. Olhou-o com
repreensão por diversas vezes, mas este, diante da superlotação do coletivo,
inocentava-se.
Mais
alguns quilômetros vencidos pelo coletivo, e nova surpresa: Sentiu mexerem na
sua bolsa! Era ele, sem dúvida! Sua bolsa tipo tira colo acabava de ser aberta!
Virou-se e o ameaçou:
—
Devolva minha carteira já, vou gritar e você será linchado aqui mesmo. Vou
botar a boca no mundo! Vamos, vamos seu descarado, vagabundo!
—
Pelo amor de Deus, minha senhora, estou desempregado... mas -tome –tome, eu
devolvo, -tome.
Lucy
conferiu e meteu a carteira na bolsa, fechou muito bem fechada puxando o zíper,
suspirou vencedora e aliviada. O safado continuou ali.
Realizou-se
ao ganhar a parada. Com essa idade, depois de passar por tantas, estava sempre
atenta.
Valeram
as recomendações do marido!
A
propósito ele a esperava em casa, a quem contaria toda esta história. Refeita,
num gesto natural, agarrou o balaústre acima, próprio para segurança. Esse
movimento arregaçou a manga do casaco que cobria o relógio. Aproveitou para ver
as horas. Cadê, cadê o relógio...
Seu
relógio tinha sumido! Não teve dúvidas...
Incontinente
virou-se pro grandalhão abriu o zíper da bolsa e ordenou-lhe faiscando de
raiva:
—
Ponha aqui o relógio. Ponha aquiiiiii o relógio! Já! Vagabundo mesmo... ponha
aquiiii!, Vou gritar, chamar policia. Espremendo a voz soltava fogo pelas narinas.
O
crioulo com medo do escarcéu, olhando pros lados e vendo outras pessoas atentas,
jogou o relógio pra dentro da bolsa da Lucy. Ela carregando ódio, não querendo
mais confusão, nem aborrecimento com polícia, olhou feio pro ladrão e foi
torcendo-se para a porta de saída, chegando ao local costumeiro de descer e
desceu.. Embora assustada, sentindo-se realmente revoltada pelo atrevimento e
pela cara de pau do ladrão, que hoje roubam e não correm, mesmo assim olhava constantemente
para trás se era seguida. Chegou triunfante sã e salva em casa, logo contando e
aumentando a aventura para o Orlando, seu marido.
—
Também Lucy, depois de tantos anos, toda sua experiência, poderia perfeitamente
ter ido com seu carro? – Ele disse percebendo o perigo das ruas.
—
É você tem toda razão, mas o trânsito está insuportável e, além disso, hoje foi
o dia do meu rodízio, esqueceu?
—
É verdade. Você vê, não é só com os outros que as coisas acontecem. Raramente você
vai de ônibus e justo hoje aconteceu. Estava na hora errada, no lugar errado. Você
viu se a seguiram?
—
Vi, não fui seguida.
Precisamos
ter muito cuidado, e principalmente sorte! Antes da sorte, a proteção de Deus.
Lucy,
aliviada por estar no aconchego do lar, deixando a bolsa e o casaco na cadeira,
subiu para o quarto, todo arrumado, tudo estava nos seus devidos lugares, elogiou
a arrumadeira pelo trabalho. Calçou os chinelos, ajeitando-se para mexer com o
jantar. Tirou também seu anel, pequena bijuteria, e ao colocá-lo no cantinho da
gaveta, como fazia diariamente, levou um susto. Arregalou os olhos e com a mão
tapou a boca para abafar o grito:
—
Meu relógio! Meu Deus... ! Olha aqui, hoje não levei! Ficou em casa!
Sentou-se
de peso na cama, olhava admirada o seu relógio, e disse:
Coitadinho, tô com dó daquele
crioulo...
Conheço várias Lucys! Muito bom!bjs
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