Por aí.
Oswaldo U. Lopes
Regina
estava fazendo o que mais gosta, guiando o carro, por aí, meio sem destino e
ouvindo música popular brasileira antiga. Sem destino, ficava mais no
inconsciente, gostava de guiar carro por aí, mesmo sabendo que ia para casa da
filha. Música popular brasileira antiga era mais correta. Tinha dezenas de
pendrives perfeitamente identificados que acoplava ao rádio do carro.
Um pequenino
grão de areia.
Que era um
pobre sonhador.
Olhou no céu,
viu uma estrela.
Imaginou coisas
de amor.
Essa
fazia parte do lote marcha rancho, como Bandeira Branca e tantas outras cuja
história estava ligada ao Desfile das Grandes Sociedades. Tivera oportunidade
de assistir a esse tipo de desfile no Rio de Janeiro, quando eles aconteciam na
Av. Getúlio Vargas. Candelária numa ponta e o imponente Ministério da Guerra na
outra.
Parou
de pensar por aí, ia acabar revelando a idade. Devia ser um cuidadoso
ajuntamento dos dois x nos cromossomas, dava uma mistura ótima, muito bonita,
mas que se recusava a entregar a idade até para a polícia. Quantas vezes
dissera a idade, quando inquerida, na base dos trinta e poucos, sessenta e
poucos e por aí ia.
Passaram anos,
muitos anos.
Ela no céu, ele no mar.
Dizem que nunca o pobrezinho,
Pode com ela se encontrar.
Adorava essa música e conhecia os autores de cor e
salteado:
Marino Pinto e Paulo Soledade.
Paulo era dado nos fichários e currículos como
aviador. Ele de fato era, mas voara na PAN AIR, daí chamá-lo de comandante, no
mínimo, era mais justo. Fazia parte de um grupo de boêmios que incluía Sergio
Porto, o famoso Stanislaw Ponte Preta, dos FBAPA (Festival de Besteira que
Assola o País), Carlos Niemeyer, Pignatari e outros que se auto chamavam “Clube
dos Cafajestes”. Era difícil associar Cafajestes com Pequeno Grão de Areia, mas
era como queriam ser conhecidos em Copacabana e adjacências.
Há pouco tempo descobrira que no Havaí, na
universidade local, os caras calcularam quantos grãos de areia havia na terra.
Esse interesse devia ser porque, em qualquer direção que você andasse, no
Havaí, você encontrava areia. Bem, lá vai: haveria na terra 7,5 quintilhões de
grãos de areia. Não dá nem para imaginar, isso é 7,5 × 10 ^18 zeros. E as
estrelas, então, quem calculou foram os da Universidade de Cambridge e o número
é ainda maior: 1 × 10 ^22 zeros.
Com tantos grãos de areia e tantas estrelas no mar,
nossa história ganha outro contorno. Era difícil mesmo o grão de areia com a
estrela se encontrar, mas a estrela-do-mar continua com sua origem misteriosa.
Se houve ou se não houve,
Alguma coisa entre eles dois
Ninguém soube até hoje explicar
Mas a verdade é que depois, muito depois
Apareceu a estrela-do-mar.
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