ÓCIO
Sergio Dalla Vecchia
Certo domingo acinzentado, vez ou outra soprava um vento frio que ratificava o final de outono.
Desfrutando um lapso de individualidade, lá estava eu acomodado na cadeira de praia, sem nenhum dos familiares fugidos dos vinte e dois graus Celsius.
As ondas assediadas pelo vento explodiam uma após outra bem à minha frente, separadas somente por uma pequena faixa de areia. Não eram grandes, mas suficientes para abraçarem minha ociosidade.
Empolgado pela coreografia das pessoas que desfilavam pela pequena faixa de praia, invoquei abracadabra e me transformei em uma câmera fotográfica.
Ajustei-me na posição automática de velocidade, diafragma, luz, etc.
O primeiro clic registrou a adolescência na forma de três biquínis coloridos andando descontraídos em risadinhas e trejeitos típicos.
O segundo disparo marcou um casal, ela aquecendo-se envolvida pelos próprios braços e ele com as mãos para trás, pensando já na segunda-feira.
O terceiro notou duas senhoras em prosa tão animada que não estavam nem aí com a temperatura, o assunto era quente.
O quarto se compadeceu da expressão desolada do vendedor de sorvetes, empurrando o carrinho pesado de mercadoria, que não seria vendida.
Continuei clicando as mais diversas impressões até que culminou com a passagem de um senhor alto e longilíneo. Desfilava em marcha batida, passos largos, braços soltos, olhar altivo e protegido com um belo chapéu panamá. Era o retrato do sucesso, resolvido e independente!
E, com o impacto da última imagem, terminei meus registros e voltei a ser eu mesmo.
Levantei-me, calcei as sandálias e parti para casa, marchando em passos largos, braços soltos, altivo e protegido pelo meu inseparável boné.
Assim, continuarei seguindo a marcha vitoriosa almejando a troca do meu querido boné por um panamá, era só o que me faltava!