RESILIÊNCIA - Yara Mourão



RESILIÊNCIA

Yara Mourão


Nos limites do pântano, havia uma trilha fechada, serpenteando por um terreno movediço até a clareira no pé do morro.

As pessoas que se aventuravam a cruzar esse lado do país não davam respostas simplesmente porque não saiam vivas dali.

Mas havia uma urgência na vida de Diego que o impulsionava a buscar a descoberta da liberdade ou talvez a salvação.

Na vila quente e úmida em que ele morava, a violência cancelava planos, matava o futuro e ceifava vidas. Ele não tinha nada a perder. Sua família já se desintegrara, suas posses se foram e os amigos também. Diego só tinha uma esperança que o mantinha vivo: encontrar Juanita, o amor interrompido pela busca da sobrevivência.

Numa manhã abafada, de nuvens baixas, ele se esgueirou pelo vilarejo adormecido e, como um animal que segue o faro de um alimento, chegou, sedento, ao entorno da trilha.

Levava alguma provisão, algumas ferramentas. Embrenhou-se. Seguiu sem descanso até o entardecer. Tinha que conseguir atravessar a fronteira porque Juanita já estava lá, do outro lado.

Cansado, sentou-se sob uma árvore, arfando. Era, agora, um pássaro ferido. Não sentia as pernas, o corpo doía a qualquer toque. Adormeceu sem querer adormecer.

À noite, a mata uiva. A escuridão congela a alma.

Diego tentava erguer-se, defender-se de qualquer coisa. Tinha muito medo e, sem querer que isso acontecesse, chorou. Chorou pela fuga, pela morte anunciada, pelo amor doído, na saudade de Juanita.

Até que amanheceu. Bebeu gotas amargas de seu cantil e pôs-se a andar. Andar, correr, cair. Caiu e a dor que não tinha que acontecer veio amarrá-lo ao chão. Seguiram-se horas… intermináveis minutos… lágrimas se misturavam ao sangue que escorria pelo seu rosto. Depois veio a febre, o delírio. Ele só conseguia murmurar: ”Juanita, eu vou chegar! ”

Via as luzes morrerem sob as sombras, os pequenos animais se agruparem e fugirem, as cobras se aproximarem ameaçadoras. Não; ele não ia se dar por vencido. Tinha de chegar do outro lado, onde um areal anunciava o novo destino, uma terra prometida para o povo daquele lugar.

Diego lutou com todas as lembranças, com todas as promessas que ainda trazia no coração.

Bebeu toda a água que tinha; comeu as plantas do caminho; jurou que não morreria. Seguiu, trôpego. Andou, se arrastou, até que, numa tarde quente, por entre os galhos do fim da mata, viu aquele brilho arenoso, quase irreal, da praia agreste.

Só pôde dar seu grito de sobrevivência num soluço rouco: “ Juanita, cheguei!’

Diego prostou-se e abraçou a si. Ele soube o quanto é preciso querer viver. E depois, continuar, sem nunca desistir da remota possibilidade de ser feliz.


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