CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CARTAS
LEDICE
PEREIRA
Nos
dias de hoje, em que as redes sociais tomaram conta de toda uma sociedade, quem
se interessaria por enviar cartas a alguém?
Tenho
saudade do tempo em que nos comunicávamos por meio de cartas.
Era quase
um ritual, escrever, envelopar, selar e colocar no correio.
Durante
muitos anos, troquei cartas com três grandes amigas que se mudaram de São
Paulo. E, após me casar, trocava cartas também com meu pai, que foi morar em
Santos.
Como
não tínhamos telefone, era a forma que havia para nos mantermos a par do que
nos acontecia. Eu colocava no papel toda minha rotina com os filhos e ele assim
conseguia acompanhar os nossos movimentos. Tenho guardadas, até hoje, as cartas
que trocamos. Com elas pude traçar um cronograma dos acontecimentos que
passávamos e sentir o carinho que acompanhava aquela troca. Aguardava ansiosa
as palavras carinhosas que ele me enviava. “Minha querida Ledice...”
Eu
procurava responder com o mesmo carinho, “Papai querido, saudades...”
Para
uma de minhas amigas, que já partiu para outra dimensão, cheguei a mandar uma
carta numa espécie de paródia da música do Chico Buarque de Holanda, “Meu caro
amigo”.
Eu
andava numa ‘roda-viva’ (olha o Chico aí outra vez) e não tinha tempo de parar
e escrever. Ela, solteira, ficava me cobrando. Resolvi mandar aquela carta,
contando tudo que acontecia comigo, marido e crianças em forma de versos.
Sei
que tenho cópia daquela carta, mas não encontrei. Começava assim:
“Minha cara amiga, me perdoa, por favor,
há muito tempo não te escrevo...”
E
assim, continuava contando as peripécias da semana com as crianças. Ela adorou
e a carta ficou na história.
Saudade
de escrever longas cartas e trocar com pessoas queridas.
Hoje,
procuro trocar mensagens com duas delas e com todos os meus grupos de amizade.
Apenas, essas mensagens não perpetuarão como aquelas cartas de papel.
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