O
PORÃO
Suzana da Cunha Lima
Dois jovens americanos, ávidos por
experiências novas, já que vinham de uma pequena cidade americana, onde parece
que tudo já havia sido feito, resolveram iniciar sua vida profissional em
São Paulo. Cidade do empreendedorismo, segundo relatos de muitos amigos. Eram
primos, um arquiteto e outro engenheiro, com algum dinheiro no bolso e o
coração transbordando de esperanças. Logo ao chegar, foram a um endereço em
Santa Cecília onde pretendiam se hospedar.
De início, ficaram boquiabertos com o
tamanho da cidade. Afinal, estavam diante da quarta cidade maior do mundo. A
deles parecia uma viela diante da grandiosidade do que estavam vendo. Ficaram
animadíssimos e se abraçaram gritando. “Venceremos, diziam. Ou não nos chamamos Peter e David!”
Cedo perceberam que o caderninho com
telefones e endereços não foram muito úteis. Sempre perguntavam por experiência
anterior, fato que um projetinho de chafariz na cidade natal não ajudava nada
no currículo.
Porém, o destino é um mago
indecifrável. Um dos contatos, ao saber que dispunham de algum capital, sugeriu
que comprassem casas para reformar e depois vender. Dava uma boa margem de
lucro. E sugeriu investigarem ainda mais o bairro, já antigo, cheio de casinhas
com problemas próprios da idade. Indicou até uma casa de esquina numa rua em
declive, que souberam depois ser dele mesmo, empacada há anos, sem alugar nem
vender.
Afoitos e cheios de energia, e
confiantes em seus conhecimentos profissionais, resolveram comprá-la e
eles mesmos assumirem a reforma. Mais uma vez, socaram o ar, se abraçaram,
gritaram como nos tempos da faculdade e até acabaram com uma garrafa de
champanhe. É nossa! É nossa hora!
A casa, meio destruída por cupins,
estava ainda em pé por ter suas pilastras de pedra e boas fundações.
Tentaram acabar com os cupins removendo o assoalho, mas viram logo que havia
uma colônia deles, muito bem instalada na casa toda, em qualquer lugar que
houvesse vestígios de madeira. Depois de retirarem 2 assoalhos quase
desmanchados e contra pisos, surgiu uma escada para o porão, do qual ninguém
suspeitava. E oh, o que havia neste porão?
Eles dois se olharam contrafeitos, já
um pouco assustados. Só podia ter coisa velha. Nem o proprietário sabia
daquilo. Um refúgio secreto para espiões no tempo da guerra? Pelas
contas, dava, a casa era até mais velha. Ou esconderijo de gangues? Depósito de
armas?
Um laboratório secreto para produzir
drogas? Lugar de cativeiro para algum sequestro?
Não deu tempo nem para especularem ou
investigarem “in loco”. Centenas de ratazanas bem nutridas surgiram pela escada
e mal deu tempo deles dois saírem aos tropeços, apavorados.
Ah, não é só mulher que tem medo de
ratos não.
Dizem que estão correndo até hoje.
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