OS AMIGOS
Antonia Marchesin Gonçalves
Vera, querida filha, sai do quarto, pare de estudar e escrever, vem dar um mergulho na piscina, está muito calor, disse sua mãe. A mãe de Vera não se conformava com a filha sempre sozinha e, o pior, estava no último ano da faculdade de literatura e escrevia crônicas polemicas e boas para uma revista, ganhando bem, não assumia a autoria, usava pseudônimo, tamanha timidez. Só confiava no professor Eduardo, que ela desconfiava ser gay, ele usava aliança na mão esquerda, sem ser casado.
A única amiga de Vera era a Sandra, o oposto total dela. A mãe Iolanda, experiente psicóloga, sabia quem era a verdadeira Sandra. Pela sua experiência, Iolanda sabe que a filha estava sendo usada pela amiga. Por ser muito estudiosa, sua filha despertava o interesse de sua amiga que, com a certeza, sem estudar muito, a ajudava nos textos de literatura, para poder passar e se formar. Cativante, era muito requisitada para as festas, ela fazia questão de participar e dizia que o social era importante para o sucesso na vida.
Iolanda sabia também que, quando ela dormia em sua casa, à noite, ela mexia nas pastas de Vera e fotografava, depois mudava algumas frases, com isso disfarçava a cópia, ficava indignada. Várias vezes ela alertou a filha, que respondeu não se importar, eu escrevo tantas e até ganho, apesar de eu assinar com o pseudônimo de Nunes e com a supervisão do prof. Eduardo, estou muito bem e feliz. Iolanda também se preocupava com da queda de sua filha pelo professor. Renomado, atraente, palestrante e premiado, tendo sua preferência pela música clássica, refinado, os dois se entendiam, mas aquela aliança de casado sem ser se sentia desconfortável. Nunca o vira com acompanhado, nada dizia sobre sua vida pessoal, isso a intrigava demais.
Para seu espanto, após a formatura, Vera contou à mãe que iria se casar com o Eduardo, ele a pedira em casamento. Mas ele não é casado? Perguntou Iolanda, não mãe, é viúvo, mas nunca quis tirar a aliança. A Sandra vai ser a minha madrinha. Feliz, a mãe providenciou o casamento perfeito, igreja, bufê, flores, a festa regada a vinho e champanhe. Vera não precisou se preocupar com nada. O casal foi morar no apartamento do professor, grande, espaçoso e bem decorado, que deixou a mãe mais tranquila. Meses se passaram, ela visitava sempre a filha, por ser única, sentia muito a sua falta.
Sempre que ia, encontrava a Sandra, que dizia que, quando saía do escritório tarde, dormia lá, ficava menos estressante. No dia do aniversário de Vera, Iolanda resolveu fazer uma surpresa logo cedo, tinha a chave do apartamento, pois uma vez por semana levava a sua faxineira para fazer a faxina. Tudo em silêncio, entrou no quarto e, qual não foi a sua surpresa, encontrou os três dormindo juntos, nus e agarradinhos. Ela saiu do quarto e esperou que acordassem.
Ao acordarem e viram a mãe resolveram se explicar. O Eduardo na realidade era totalmente sem interesse sexual por mulher ou homem, por isso usava a aliança, Sandra e ela eram amantes desde solteiras, apaixonadas desde a faculdade e para manter as aparências combinaram o casamento, assim não despertavam a atenção da mídia.
Com toda a sua experiência de psicóloga, foi difícil digerir essa situação. Abraçou a filha, deu o presente e desejou a todos que é isso que os faz felizes, assim seja.
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