INFELIZ
ACONTECIMENTO
Antonia Marchesin Gonçalves
Valéria saiu correndo para
fora do porão, lembrando-se do ensinamento de sua mãe. “Em situação de perigo,
nunca entre em pânico que ele embota a mente, aí você morre”.
Era a presidente de
multinacional acostumada a trabalhar dez horas por dia, decisões importantes
que dependiam de sua decisão da palavra final, nunca imaginei passar por essa
situação. Sua fama na empresa não era das melhores, autoritária,
perfeccionista, os seus comandados reclamavam muito.
A convenção anual este ano
será num resort no Nordeste. Exigente, fez questão da suíte presidencial,
instalou-se com sua bagagem de quatro malas. Tomou banho e desceu para conferir
se o auditório estava de acordo com suas exigências. Encontrou tudo em ordem.
Precisava de um aperitivo para relaxar. Chegando ao bar não notou o
vice-presidente no canto oposto, pediu ao garçom gim-tônica com uma fatia de
laranja, sua bebida favorita. Sentou-se com conforto na poltrona e pensou: é
hora de relaxar porque serão três dias intensos com muitas atividades para
comandar.
Chegando sua bebida veio
junto uma cumbuca de amendoim e castanha de caju salgados para acompanhar. O
primeiro gole desceu rolando pela sua garganta com prazer, serviu-se de uma
porção de amendoim e castanhas de caju bem crocantes e aprovou. Após beber
grande parte da bebida, sentiu leve sonolência, atribuiu ao cansaço. Assinou a
nota. Mas havia algo anormal., sentia-se como estivesse pisando em nuvens, a
vista querendo embaçar. Aos tropeços, conseguiu chegar ao elevador. Desmaiou.
Lentamente voltou à razão.
Ouvia vozes ao longe, não sabia onde estava, a cabeça doía. Percebeu-se na
escuridão de um lugar. Só uma pequena fresta de luz que saia por baixo da
porta. Quanto tempo estou aqui?
A lucidez começou a voltar,
lembrou-se do bar do hotel, que havia ingerido um drinque. Fui drogada! O
famoso drink boa-noite-Cinderela! Fui sequestrada! Pensou.
Quando começarão a fazer
exigências? Tentou abrir, bateu e gritou. Ouviu passos. Receosa, ela recuou.
Seu algoz surge imperioso. Era o
vice-presidente de sua empresa.
Valéria gelou, e com total
cara de espanto, boquiaberta:
— Não pode ser! O que você
quer?
— Assumi a abertura da
convenção dizendo que por motivo de saúde você não está presente. Nesses três
dias você ficará trancada nesse quarto. Liberarei você quando todos forem
embora. Nada faltará para você, já trouxe sua bagagem. Está tudo aí. – Disse
apontando para as malas empilhadas num canto.
E acrescentou:
— Após esses dias, serei eu
o presidente da empresa.
Sorriu um sorriso sarcástico
e saiu trancando a porta.
Tateando a parede, Valéria
encontrou o interruptor de luz. Era um cômodo sem janelas. Um tímido banheiro
era tudo que tinha. Sobre a pia, um velho espelho manchado. Olhou de novo para
as paredes, não havia ventilação.
Lembrou do celular. Correu
para sua valise, procurou na bolsa de mão, inutilmente, lógico que não estava.
Tentou buscar a calma, sentou-se e lembrou-se da mãe que sempre a ensinava que em momentos de perigo nunca se deve entrar em pânico, que embota a mente. Valeria sabia que isso era verdade. Respirou fundo várias vezes e isso a acalmou. Esperou algumas horas já com a estratégia defensiva. Conseguiu arrancar o espelho da parede e o colocou ao lado da porta. Poucas horas depois, ouviu a chave girar no ferrolho. Posicionou-se com o espelho nas mãos. Assim que Fernando entrou, ela o atacou, atingindo a jugular do sequestrador. Tinha medo de que ele se recompusesse, então o feriu novamente na cabeça. Sua respiração descompassada a empurrou para fora do cômodo. Era o porão de algum lugar. Subiu a galope a escadaria. Com fúria, atropelava-se nos degraus.
Chegou logo à porta de
saída. Identificou o depósito abandonado, sabia que o hotel ficava ali
perto. Desembestou-se a correr até
chegar ao resort. Imediatamente, o gerente veio recebê-la. Era estranho tanto
sangue nas mãos e na roupa dela.
— Matei meu vice-presidente!
Ele me sequestrou, tive que matá-lo para conseguir fugir! Liguem para a
polícia, é urgente.
Quando a polícia chegou,
Valéria foi logo contando todos os detalhes, desde sua chegada ao Resort. A
polícia foi ao cativeiro, encontrou o corpo de Fernando, e toda a bagagem de
Valéria.
Após tudo esclarecido,
Valéria foi liberada. Voltou para São Paulo com a certeza de que se aposentaria
para viver no seu sítio em Monte Verde.
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