ÚLTIMA CARTA.
Yara Mourão.
Jade, envolta em seu xale enegrecido, começava a fazer parte da paisagem. Sempre sentada sobre as pedras em frente ao posto do correio, do outro lado da rua, onde havia, ainda, algumas casas de pé.
Ali ela passava muitas horas, como uma sombra imóvel, na desesperança que a saudade traz. Lentamente, a espera a consumia.
O garoto do correio ia chegar com os pacotes em algum momento. Às vezes era o menino magrinho, outras vezes o homem de uniforme. Levantavam poeira e cinzas do chão com suas bicicletas com os pacotes da correspondência.
Jade havia enviado muitas cartas a Jonathan; para lugares e endereços tão estranhos, tão desconhecidos. Nem sabia se ele as recebia. Ela relatava fatos cotidianos, dava notícia dos filhos, da casa ainda de pé. Enviava mensagens de fé, de que um dia aquela guerra acabaria e tudo seria bom como antes.
Meses atrás, viera uma resposta: Ah! Ele estava bem, tinha recebido mantimentos e roupas de frio. A ferida na perna estava cicatrizando, logo estaria na ativa de novo!
Isso foi no início do outono, ainda. Agora, o inverno já instalado, Jade temia pela falta de notícias. Ela mandou dúzias de cartas e nenhuma resposta chegou. Sabia que os grupos se dispersavam, mudavam de cidades até. Talvez não fosse fácil achar um posto que coletasse a correspondência.
Quando anoitecia, Jade voltava para casa a passos lentos, fechada em seu silêncio, espantando, como podia, os pensamentos tristes de seu coração. Se dormisse, sonhava com Jonathan indo para tão longe, numa terra iluminada e florida, cheia de belezas! Acordava banhada em suor, trêmula. Não podia crer em ilusões.
As horas morriam sobre as horas e pela manhã ela se apressava para ir ao posto.
Um dia, o menino chegou cansado. Pousou o pequeno pacote sobre o balcão do posto e saiu lentamente. Acenou para Jade, quase um adeus.
Ela correu para o posto. Ah! Finalmente!
— Será que chegou algo para mim? – Perguntou.
O velho buscou entre os envelopes sujos.
— Sra. Jade?
— Sim, disse ela com voz embargada.
— Aqui está; sem remetente.
Ela nem se importou. Isso era um detalhe dispensável nas circunstâncias. Abriu a carta. Leu de um lance porque eram só quatro linhas.
A primeira falava da saída no jipe.
A segunda falava da coragem de Jonathan.
A terceira falava da bomba no carro.
A última falava que todos morreram.
Jade guardou a carta junto do peito, se enrolou no xale e voltou para casa a passos lentos, pois as crianças precisavam de comer e a vida tinha de continuar, já esquecia até por quê.
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