O Veredicto.
Silvia Villac Vicente de Carvalho.
Alice estava consternada com o telefonema que acabara de receber do contador. Afinal de contas, a gerente trabalhava com ela já havia sete anos e, além da relação profissional, a considerava como parte da família e sua melhor amiga. Aliás, mais do que isso, a tinha como uma irmã e sabia tudo de sua vida pessoal!
E ali se encontrava ela com aquele envelope que iria definir como seria a vida administrativa de sua clínica daqui para frente. Antes de abri-lo, começou a passar um filme em sua cabeça, desde o início de carreira, atendendo inúmeros convênios, sublocando uma sala em um consultório, até o dia em que conheceu a futura gerente que chegou como paciente, pessoa humilde que logo se tornou sua amiga e, mais tarde, passou a ser sua funcionária. Juntas passaram por tantos “perrengues”, enfrentaram a pandemia, usaram de toda a criatividade para atrair novos pacientes, e, quando a médica começou a ser reconhecida por sua excelência, não se esqueceu da amiga e funcionária de luta e a promoveu, investindo em cursos e lhe oferecendo o que mais de moderno havia em cuidados com a pele e tratamentos de beleza.
Mas era preciso encarar a realidade dos fatos. Ela havia solicitado a auditoria e o resultado estava ali, em suas mãos. Serviu-se de um café, sentou-se, respirou fundo e, com as mãos trêmulas, rasgou o envelope para ver o tamanho do rombo. Já fazia mais de três anos que a gerente estava desviando dinheiro e, embora não fosse muito boa com números, com os olhos incrédulos e marejados, conseguiu enxergar vários vermelhos na relação.
Um misto de decepção, desânimo, tristeza, mágoa e raiva tomou conta dela e se pôs a chorar, copiosamente. Como é possível ser traída dessa maneira? E veio à mente a “pichação” que estava há mais de uma semana no muro na esquina da clínica: “O mundo está doente. Socorro! ”.
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