As Meninas da Casa Verde - Yara Mourão

 



José Arouche de Toledo Rendon




As Meninas da Casa Verde

Yara Mourão

 

São Paulo antiga era uma cidade tranquila, bela à sua maneira. Tinha traços europeus em suas construções oficiais, um traçado urbano bem desenhado, rios límpidos e até navegáveis.

Seus moradores já prenunciavam o caráter cosmopolita da cidade; eram de várias origens, diferentes extratos sociais e uma elite que dava régua e compasso aos costumes das pessoas.

Moradores do centro, pois era ali que florescia o movimento da cidade, um militar e suas sete irmãs desfrutavam de seus privilégios. Ele, acadêmico e elas senhoritas acima de qualquer suspeita.

Eram sete jovens vivendo sua bela época e tinham lá seus segredos, seus sonhos, suas magias.

As mais velhas eram os guardiães das tradições familiares; as do meio eram as inovadoras e as caçulas eram as revolucionárias. A história acelerou os acontecimentos e transformou a realidade das meninas da Casa Verde.

Em princípios de 1800 o mundo tinha o fascínio e o terror de Napoleão; a França borbulhava de som e fúria e o mundo todo estava de olho.

Também as sete irmãs estavam de olho...

Ecos da Revolução Francesa chegavam a São Paulo. As irmãs mais velhas se agarravam às coisas do passado, ao sonho de palácios, carruagens, sofisticação. As meninas do meio seguiam as novas tendências da arte, do vestuário, da filosofia.

Mas Joaquina e Rudesinda, as caçulas, estavam na esteira das revoluções!

Imaginem os embates, os desencontros. Tudo piorou quando Joaquina, que dava um apoio estudantil no colégio das freiras, resolveu falar em liberdade para o povo!

Foi uma tragédia anunciada! Da noite para o dia acabou-se a paz na família do militar! Vizinhos denunciaram a postura das meninas, jornais anunciaram a infiltração de movimento revolucionário, a polícia se manifestou. Foi uma desgraça! Ordens para prender as moças logo foram expedidas e elas foram acusadas de conspiração!

Joaquina se escondia e Rudesina tentava protegê-la. Mas sem conseguir sucesso, ficaram à mercê das autoridades.  Um dia aforam pegas e aprisionadas, acusadas de traição da pátria! Foram difamadas em público pelos conhecidos até.

As consequências logo vieram: o irmão militar, diretor da Faculdade de Direito, perdeu o cargo, as honrarias e os privilégios. Até as irmãs bem-comportadas tiveram que se refugiar num convento de freiras, pois foram acusadas de conivência com as “revolucionárias”. As propriedades da família foram confiscadas, as economias ficaram indisponíveis, tudo se foi rapidamente para o esquecimento.

Mas hoje, séculos depois, existe na Câmara Municipal de São Paulo, um projeto para revigorar o local onde essas meninas moravam, o Lardo do Arouche, que se chamaria, então, o Largo da Liberdade, em memória de Joaquina e Rudesinda!

O tempo resgatando a História!

 

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