MEU SONHO NO ENVELOPE
Antonia Marchesin Gonçalves
O ônibus está atrasado. Os clientes não me deixavam fechar a lanchonete, tudo está atrasado. Não acredito, justo hoje, que é o dia do correio passar. A minha vida depende dessa última carta, será tudo ou nada. Cheguei em casa quando o carteiro estava saindo, fui direto para a caixa e lá estava ela com o timbre que eu esperava, o da marinha. Minha mão tremia, resolvi esperar, subir e só abrir sentada no sofá.
Até o elevador está parando de andar em andar, essas crianças que apertam todos os botões deviam seus pais pagar uma multa. Quando se está com pressa, vira um inferno essa demora. Entrei e sentei no sofá com o coração disparado, a mão tremendo, levantei o envelope para luz da lâmpada, nada vi. Li de novo o meu nome, virava de um lado para outro com medo de abrir e ler o conteúdo contendo negativa ao meu pedido.
Virando o envelope, comecei a lembrar desde quando estou esperando essa carta. Veio na memória o dia em que vi o primeiro desfile das forças armadas, fiquei deslumbrada com a altivez dos soldados, a precisão dos passos acompanhando a banda. De todos, o que mais me surpreendeu foi ver mulheres desfilando e, em especial, as da marinha. Com seus uniformes brancos, divisas azuis e douradas, os quepes brancos com detalhes também azuis e dourados e de saias impecáveis.
Foi ali que decidi ser uma delas, contei para a minha mãe que me respondeu: precisa estudar muito, fazer vestibular e ser selecionada, a concorrência é grande. Não desanimei, mais uma razão para me motivar a alcançar o meu sonho, que me parecia importante. Aqui estou eu com o envelope na mão, com medo de abrir e não conter a resposta esperada.
Fui pegar o abridor de envelope, não queria arriscar rasgar a correspondência. Com todo cuidado, ao abrir, tirei a carta dobrada. Meu coração disparou. Contei até três e abri, a vista embaçou e li finalmente a palavra “ACEITA", com compromisso de me apresentar em uma semana.
Feliz, beijei a carta que trouxe a notícia da realização do meu sonho.
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