VICTOR,
O SKATE E A MOCHILA
Maria Luiza de C. Malina
Os
esportes radicais são a marca forte de Victor.
Nas
marés baixas, deslizava a prancha de madeira fina, sobre a nata d´água em cima
da areia. Tombos e tombos eram seus amigos invisíveis.
Sempre
inventando, até dar-se frente a frente com os ávidos malabaristas do skate de
asfalto. A paixão foi imediata. Os
presentes passaram a ser tênis, pranchas, rodas e trucks. Seu quarto
transformara-se em oficina e de sobra, especialista em consertos dos carésimos
tênis esfolados pelos movimentos que ultrapassam os limites da criatividade, na
execução das manobras radicais.
Sua lei: ninguém limpa meu quarto. Eu limpo.
Entre
as tais manobra, tal qual um pássaro entre “flips e grinds” as raladas
constantes transformaram-se em um grande acidente. A quebra da perna esquerda.
Cirurgia e colocação de pinos. Muitos pinos. Fato a ser encarado de bom humor.
Dois longos meses de imobilização.
A
inseparável mochila recheada de acessórios, batata frita, bolachas, etc. estava
lá.
O
quarto deu lugar um pequeno bar. Repleto de amigos com salgadinhos e refri.
OK.
O dia da retirada do gesso. Antes um RX. Qual não foi a surpresa do médico ao
ver algo estranho na perna. Ele mesmo cortou o gesso.
—
Victor, o que é isso? Exclama surpreso suspendendo algo no ar.
Victor
defende-se rindo:
— Ah!
Hahaha! A barata foi parar aí dentro?
—
Estatelada. De pernas abertas como se fosse uma rã, ela deve ter entrado e não
conseguiu sair por causa do gesso – informa o médico.
—
Eu a vi. Procurei pela cama e não achei. Agora achei. O senhor não vai
acreditar. Ela morava na mochila e eu deixava – explicou Victor.
—
Como assim, por que você não a matou? – repreende o médico.
— Ah!
Os porquês. Porque os colegas mexem nas mochilas para pegar chave de fenda e,
eu não gosto. Então mostrei a eles a Barata Skatista e, assim me safei –
explica.
—
Mas e seu quarto? Deve estar cheio de baratas. Sua mãe sabe disto? Retruca o
médico.
—
Que nada, ela passa spray e a minha baratinha não morre. É como eu, forte e
corajosa tal qual uma leoa - brinca sorridente.
— Tá
bom, mas vamos lá Victor, arrume outro inseto ou bicho de estimação, nem que
seja de pelúcia – insiste o doutor.
Em
tom irônico Victor conta sua aventura.
—
Hahaha! Ela tem até um pratinho em que eu esmago bolacha. Ela come e vai prá
mochila. Uma gracinha foi domesticada. Quer dizer: ERA.
O
médico joga-se na parede de braços e pernas abertas, imitando a Barata Skatista.
—
É assim que ela estava. Tá vendo. Toda arreganhada. Esta já foi. Agora chega de
brincadeira. Vamos levar a vida a sério – aconselha.
Victor
de volta para casa relata a mãe entre gargalhadas o susto do médico.
Aprendeu
a lição. Hoje mora só e, é fissurado por limpeza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário