À BEIRA DO ABISMO! - Carlos Cedano


À BEIRA DO ABISMO!
Carlos Cedano

Meu nome é Paul, tinha 30 trinta anos de idade e viúvo quando cheguei à estação de monitoramento do clima e meio ambiente. Sou biólogo e especialista nas questões de mudança climática. Recentemente fui nomeado chefe da estação de monitoração Sul-americana localizada entre os Andes e a Floresta Amazônica.

Nossa missão é acompanhar o comportamento e evolução das condições climáticas e informar a Central de Monitoração em Genebra - CMG. A situação piorou nesses dez anos que estou aqui: aumento da temperatura acima das previsões que acelerou o degelo da cordilheira,  o que transformou uma grande parte da floresta amazônica num imenso pântano.

Passaram outros dez anos e a situação continuou a piorar. Além do deslocamento de populações costeiras para regiões mais altas, se acentuou o problema da produção de alimentos afetada pelas altas temperaturas gerando tensões sociais. Esta situação tende atingir escala global!

Fui até Genebra onde me reuniria com o diretor geral, e quando cheguei ao prédio da CMG, Mr. Frank Rogers já estava a minha espera:

            — Pois é Paul, a situação se agrava e precisamos ter uma postura mais incisiva com as entidades mundiais, elas precisam aplicar com urgência as políticas aprovadas para evitar os desastres que nos ameaçam.  Você vai fazer parte de nossa equipe de alto nível para elaborar o informe a ser lido pelo Secretario Geral da ONU na Assembleia Geral do Clima e do Meio Ambiente, daqui a três messes.

 — Está certo Mr. Rogers. Quando começamos?

 — Vou reunir a equipe depois de amanhã. Entretanto, peço-lhe aproveitar estes dois dias para fazer os exames médicos de praxe da CMG.

Dois dias depois os cinco “experts” estavam reunidos. Mr. Rogers explicou os objetivos do grupo. Em um mês devemos ter um “borrador” do informe que o Secretario Geral da ONU apresentará à Assembleia Geral. Depois, o “borrador” deverá ser negociado com o G20 e envia-lo aos países membros antes de seu debate em assembleia.

A leitura do informe do Secretario Geral foi sucinto e muito claro em seus argumentos, mas foi o parágrafo final que tocou fundo os membros da assembleia e a mídia:

Pelas razões apresentadas, meus senhores, não há mais espaço nem tempo para protelações nem para medidas tímidas de intervenção, estamos à beira do abismo, de uma catástrofe e, se a tragédia ambiental e climática se consumar, seremos a única espécie que se orgulhou de sua inteligência e de suas conquistas porem, jogou fora seu próprio destino. Insisto, não brinquemos com a mãe natureza! Se ela foi generosa conosco até agora, também poderá ser terrivelmente cruel! Muito obrigado.

Antes de voltar para meu centro de monitoração Mr. Rogers me chamou à sua sala e disse:

— Tenho comigo os resultados de seu exame médico. Estamos surpresos! Paul, apesar de sua idade, suas condições físicas, mentais e emocionais correspondem a uma pessoa de trinta anos.

— O que significa isso? – perguntei.

— Que você é um ser privilegiado e goza de uma longevidade que não pode ser atribuída somente à sua herança genética.  Você pode viver mais de cem anos numa boa!

— Qual poderia ser outra explicação? Retruquei.

— Encontraram veneno de abelha em quantidades muito pequenas. O Dr. Schuster solicitou ao Dr. Renan amostras do mel e exemplares das abelhas que o picaram. O resultado foi surpreendente.  As abelhas são de uma espécie até agora desconhecida e de evolução bastante recente. Seu veneno é de baixa toxicidade e parece estimular as funções vitais. Tudo isso é ainda uma hipótese. O Dr. Schuster continuará a investigar.

— O senhor pode me manter informado? Indaguei.  

— Não será necessário Paul, você foi nomeado chefe de supervisão dos acordos assumidos pelos países da ONU. Estaremos lado a lado aqui. Meus parabéns!

— De qualquer maneira, antes de tudo, preciso de umas férias, pois apesar das minhas condições físicas, não sou de ferro! 

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