A MULHER
QUE ADIVINHAVA O FUTURO.
Mario Augusto Machado Pinto
A viagem foi longa e arriscada: 80 km NE desde
Londres a Kinson.
Após pagar o motorista, Henry, já com o endereço
certo, foi ao pub Deor House se informar sobre a senhora Labell. Foi pelo
jeitão. Demorou. Não havia placas com indicações nem vivalma andando pelo
entulho do que foram as ruas. Paisagem desalentadora. É tempo de guerra.
Tristeza.
Encontrou o pub, apresentou-se, e disse
lamentar o estado calamitoso da cidade.
— É que os aviadores alemães descarregam
suas bombas aqui, antes de Londres. É para voltar mais rápido e tentar cruzar a
salvo o Canal para o Continente.
Após mais alguns comentários, Henry perguntou
pela Sra. Labell.
— É verdade que ela faz adivinhações, prevê
o futuro?
— Sim, faz e pode confiar: ela sempre
acerta.
— É que quero falar com ela sobre o meu.
— O seu o que?
— Futuro, claro!
— Então ela é a pessoa certa. Tem um “porém”,
recebe pouquíssimas pessoas e não adianta insistir.
— Entendo. Então, com sua licença, vou ao
encontro da Sra. Labell.
Quanto é?
— Nada. É por conta da casa, pela sua
coragem em vir aqui.
Kinson está num estado lastimável,
escombros e buracos por toda parte. Os constantes bombardeios estão acabando
com a cidade. Ironicamente, no que foi o centro só havia um obelisco, era a
imagem do espirito vencedor inglês. O mais era terra arrasada.
O local de Labell é num porão, um buraco
infecto, sujo, com cheiro nauseabundo. Não foi preciso chamar, ela o estava esperando
e foi logo dizendo para entrar e sentar-se num caixote ao lado de uma mezinha.
— Sei o que você quer, mas quero seu pedido
de viva voz.
—Senhora, é que os bombardeios me dão muito
medo. Fico desnorteado, só penso que vou morrer a qualquer momento. Eu não
quero morrer! Sou muito jovem! Que faço?
A Sra. Labell colocou uma colher sobre a
mesa, segurou-a e disse laconicamente:
— No mesmo dia tema só o segundo
bombardeio. Hoje pela manhã tivemos o primeiro. O segundo vai ser daqui a pouco.
— Então vou embora!
— Você me deve 15 libras.
— Ei-las.
— Vou buscar o troco.
As sirenes começam a tocar avisando, e nada
da Sra. Labell. Henry chama por ela e sai à rua. Vê Labell correndo e gritando Vai cair! Vai cair! Ouve o som das
sirenes do “mergulho” dos Stukas, o matraquear das metralhadoras, o silvo das
bombas. É ensurdecedor. É a próxima! É a
próxima! Grita para si mesmo e corre. Caiu tão perto que ele a viu entrar
pelo solo e ouviu o inicio do BUM da
explosão.
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