Máquina
de escrever. Vendo
Fernando Braga
Você, nesta foto, está
vendo uma máquina de escrever, da marca Remington.
Embora bem antiga, guarda
perfeitas condições de funcionamento e traz consigo uma história passada, muito
peculiar.
Em fevereiro de 1924, foi fundado
por doze das mais representativas figuras da época, o Rotary Clube de São
Paulo, o segundo do Brasil, e em 1945 dos Rotarys internacionais. Dentre os fundadores lá estava
Hermínio Gomes Moreira, um cidadão comum, criador de uma escola de datilografia,
e taquigrafia que se tornou famosa. Era a Escola Remington, localizada na rua
XV de Novembro n.26 (Palacete Mappin).O
anúncio da escola dizia: venha aprender datilografia e seu futuro estará garantido
no comércio. Eram muitos os alunos interessados, que praticavam em máquinas Underwood
e logo mais, nas Remington, as mais perfeitas daquela época.
Esta máquina que vocês estão vendo, foi uma
das primeiras delas. H.G.Moreira, foi por alguns anos, tido como o rotariano
número 1, não só de São Paulo, como de toda a América do Sul, pelo tempo de
Rotary, como pela idade...
Muitos anos após, quando
sua escola fechou, trouxe para sua casa várias maquinas de escrever, dentre
elas, esta que vocês estão vendo.
Uma noite, em uma reunião
festiva do Rotary, foi feito um leilão das mesmas, e a soma arrecadada foi doada
à Fundação dos Rotarianos de São Paulo, considerada a maior obra rotária do
mundo, voltada à educação.
Esta precisa máquina foi
arrecadada por meu pai nesta sessão, em setembro de 1949. Pela primeira vez,
pediu que eu, com 14 anos, o acompanhasse em uma reunião de Rotary e lembro-me bem dele ter dito:
— Esta máquina agora é
sua, espero que faça bom proveito dela!
Com o progresso, com a
tecnologia, estas máquinas foram substituídas, mas têm um passado glorioso:
quantos alunos, hoje a maioria deles falecidos, aprenderam nelas, quantos
trabalhos fiz eu nela e agora:- o que
posso fazer com ela?
Penso:-
Vivo só, na quarta e última idade, doente, gastando minha parca aposentadoria
em remédios. Se eu vendê-la a um colecionador, talvez consiga um bom preço,
provavelmente, menos do que meu pai pagou por ela, na ocasião. Mas... nesta fase da vida posso ainda fazer alguma
extravagância! O
fato verdadeiro é que já sinto o frio gélido do túmulo, talvez melhor do que
minha respiração arfante, cansada, do dia a dia.
Vamos lá, quem der dez mil
reais por ela, pode levar esta preciosidade, de no mínimo noventa anos! Meu
telefone abaixo.
(Publicado no Estado de
São Paulo,2013)
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