A CASCA DE NOZ - CONTO DE NATAL
M.luiza
de C.Malina
O
mês de dezembro é uma época curta demais para as aguardadas atividades corriqueiras
transformadas em tradições de aromas e sabores das especiarias.
A
neve fofa aumenta a cada dia. Agasalhos coloridos espalham a alegria na montagem
de bonecos para servir de boliche com os trenós. Nesta ocasião somos
personagens em nossos contos de fadas e duendes.
As
previsões através de simpatias são as preferidas das meninas com as ideias recheadas
de sonhos juvenis, tal qual bolachas recheadas de geleias. A criatividade dos
avós atravessa gerações para entreter as crianças à espera dos presentes.
A
brincadeira da casca de noz é a mais curiosa, por vezes intrigante.
Dentro
de uma bacia cheia de água são colocadas várias cascas de nozes. Em seu
interior uma pequena vela. Cada um escolhe uma casca e acende a vela. Se ela
apenas girar indica que a pessoa continuará na casa. Se ela se afastar do meio,
indica que a pessoa sairá de casa para uma viagem, estudar ou casar-se.
A
minha casca de noz todos os anos se reunia junto a outras duas, assim as três
afastavam-se das demais. Nunca soubemos
o significado. A cada ano este fato se repetia.
Muitos
dezembros se passaram. Já não me importava com a casca da noz desde que me
conscientizei que, as embarcações não foram feitas para permanecerem atracadas
no porto e, muito menos para uma navegação solitária. A minha casa de noz teria
algum sentido.
Recostada
à decorada janela do hotel, observo a neve avolumar-se, com uma caneca de chá
nas mãos. Absorta em pensamentos na procura de uma alma gêmea, até mesmo no
calor de uma caneca de chá, não percebi o grande salão avolumar-se de hóspedes
para o coquetel que prenuncia ceia.
Um
toque no ombro. A realidade retoma com a mesma agilidade de um assentimento da
surpresa de um sorriso. Aqui está ele, a minha frente, em seu traje de gala. O príncipe desaparecido a
que tanto amei no branco silêncio da neve. Acompanhado de menino de oito anos
aproximadamente. Oferece-me o braço. Aceito.
A
simpatia que me acompanhou finalmente
realizou-se.
As
cascas de nozes estavam reunidas. Entendi tudo. Senti-me feliz, olhando pela mesma
janela da vida, embaçada pelas tantas xícaras de chás solitárias.
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