2050 - A RODA GIGANTE - M.luiza de C.Malina



2050 - A RODA GIGANTE     
M.luiza  de C.Malina

Há muitas coisas que perduram latentes dentro de nós.  As mais simples remetem sensações que são capazes de nos transportar a um tempo que atravessou, com as mesmas alegrias das décadas de gerações à procura de elementos perdidos que, mais se parecem a semanas furiosas que aniquilam dias perdidos do nunca conhecido tempo do lazer.

Nasci na Roda Gigante da Vida. Acertei na decisão do ano de 1600, com o sopro da ideia da primeira engenhoca a girar. A girar sem pressa.  Feita de madeira. Gigante ou pequena, entre a antiga e nova tecnologia, ela segue sem se importar se, gordo ou magro. Rico ou pobre. Asiático, africano, europeu. Índio, americano ou sul americano. A roda atravessa os continentes junto a mim.

Imita o mundo a girar, oferecendo aos passageiros a sensação suprema de dono do mundo.

Semelhante à engrenagem da vida, para. Para quem quer descer.  É uma lenta e adaptativa viagem. Assisto que, muitas vagas atrás de mim são preenchidas com uma rapidez em que pouco reconheço a fisionomia de quem está a minha frente. Continuo no giro lento de quem não tem pressa em descer. Ingiro no giro do girar as voltas do revirar do mundo.  Na verdade tudo continua igual.

Igual à modernez do ano de 2000, em que foi apregoado que, “de 2000 não passarás”.

É o ser humano quem tem pressa, em vista, a roda torna-se lenta.

Sou um velho para os dias contados no calendário da vida. Constato com certo privilégio, da alta e translúcida poltrona da roda gigante, que os temores para os próximos 50 anos continuam iguais aos de 50 anos passados em que o ser humano é substituído na poltrona da vida impulsionado pelo rodar do eixo da terra.

 Aprendi que a natureza não se opõe a eles. Segue seu ciclo desértico, da sede da humanidade, entre as caridosas chuvas a que tudo verdeja e que, de improviso chega sem tréguas, acompanhada da calamidade.

Ingiro no giro da tecnologia o desejo, crescente e obstinado, do poder que acompanha todas as eras deste que a habita.

Gosto do que presencio. Junto à magia de não ser visto ou sentido, a roda inicia seu giro, na reviravolta da sabedoria milenar. Continuo incógnita assistindo a cada substituição da vida humana alimentada pelas lágrimas, ora azuis, ora vermelhas ou amarelas, transformando-se em alimento ao humilde planeta que o suga de maneira voraz, remetendo ao âmago da terra a fim de impulsionar a Roda a rodar.


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