O pássaro sem cor - Acácia Lima


O pássaro sem cor
Acácia Lima

Ele era um pássaro triste. Vivia separado dos demais pássaros.   Escondia-se nos galhos das árvores, ou atrás das montanhas.

Não gostava de ser visto, porque não tinha cor.

Suas penas eram transparentes, fazendo com que sobressaísse o seu bico alaranjado e os olhos pretos.

Sempre recordava o tempo em que foi feliz.

Naquele tempo era verde,  tinha algumas penas das asas avermelhadas e o bico alaranjado. Sua companheira, também era colorida, bem amarelinha.

Voavam juntos para lá e para cá. Cortavam o vento em zig zag. Ora voavam rápido, ora voavam bem devagar, conversando e saboreando o voo.

Raramente se separavam, procuravam alimentos de todo tipo, e abrigavam-se em diferentes lugares.

Um dia,  quando voavam em uma floresta, encontraram outros pássaros e brincavam de se esconder.  Ela se perdeu, e nunca mais foi encontrada.

Houve muita procura. Dia e noite, semanas inteiras procuraram. Até que desistiram. Ninguém sabia explicar como ela se separou dos outros pássaros, e se perdeu.

Ele sentiu uma dor enorme em seu peito. A dor o partiu ao meio, sequer podia respirar.  Sua tristeza foi tão grande que as cores de suas penas foram desaparecendo, desparecendo, até que sumiram de vez.  

Então ele ficou muito feio, calado, sozinho e choroso.

Chorou, chorou e chorou.

Voou para bem longe! Para os quatro cantos do mundo! Avistou neve e geleiras, florestas fechadas, montanhas altíssimas. Sobrevoou  mares e rios, levado pela  dor da perda.

Então encontrou um pássaro preto. Logo ficaram amigos e  conversavam enquanto voavam.

Brincavam de se esconder, quando pássaro preto foi atingido por um caçador.
Caiu machucado. Não conseguia mais voar.

O pássaro sem cor, cuidou de cada machucado do pássaro preto. Tinha medo de perdê-lo. Não podia sentir novamente a dor da perda.

Alimentava-o com carinho, e dava-lhe todo tipo de plantinha medicinal.

Quando o pássaro preto se recuperou, passou a ajudá-lo a voar.

O pássaro preto voou alto, bem alto, e de lá, olhou para o amigo e não acreditou.

 — Pássaro sem cor!!! Hei!! Hei!!!
 — Você está colorido!!! Posso ver suas cores.
 — São muitas cores. São lindas!!! Lindas !!!!

Ao se sentir feliz com a cura do amigo,  ficou totalmente colorido.

Agora não precisava mais se esconder, estava curado da dor da perda.

Voaram e voaram felizes, cortando o céu, fazendo zig-zag no vento e sentido o arzinho gelado do amanhecer. 

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