CAMINHOS ESQUECIDOS
Maria
Luiza C. Malina
Tec...tec...tec...
O metrônomo continuava seu compasso na contagem das notas, sem se dar conta de que
Catarina estava debruçada sobre o teclado do piano numa cena profundamente
inquietante.
-
O tiquetaquear deve tê-la hipnotizado! - dizia Amélia.
-
Ora! Deixe-a em paz, está cansada, teve um dia muito agitado! - retrucou sua
avó, que, de tempos em tempos lhe lançava um olhar de espreita, o que não
passou despercebido à Amélia, que continuava seus afazeres intrigada com a
situação.
Catarina,
finalmente, abre as janelas da sua vida debruçada em cima de seus segredos,
depois de ter adquirido forças na solidão do silêncio. O ar fresco da manhã do
seu dia tem um efeito esplêndido, repleto de ideias úteis, liberando toda sua
emoção contida.
Com
o rosto recostado no batente da janela desperta sua feminilidade sentindo-se
enamorada de si mesma, recobra a auto suficiência com o leve toque de sua mão
no rosto.
Assim,
passa o dia lentamente, cantarolando pequenas canções que a fazem abrir mais e
mais janelas. Seu corpo de casarão mal assombrado, toma forma e vida, sem notar o tempo
em que ficara debruçada em uma só janela.
Continuava cantarolando, girando e dançando por todos os compartimentos
de sua alma, trajando uma longa e leve vestimenta, que se esvai criando uma
nova Catarina.
A
cada girar Catarina elimina de uma a uma suas incertezas e seus medos e, no
cantarolar, conspira junto ao universo de mulher em flor, todos os seus
desejos.
Percebe
o compasso da ânsia do viver, pelo tiquetaquear de seu coração, deixando a
passividade adormecida, trancada no baú de sua infância, cheio de conchinhas do
mar.
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