SE EU NÃO TIVESSE VINDO PARA O BRASIL
Antonia
Marchesin Gonçalves
Se eu não tivesse vindo para o
Brasil como seria minha vida? Outro dia vendo um vídeo sobre a Itália, recebo
muitos pelo WhatsApp, parei e tentei imaginar minha vida na minha cidade Jesolo,
com todos os parentes por perto, dez tios entre os do pai e mãe, uns trinta
primos no mínimo, e todas às vezes que voltei lá, não cheguei a conhecer nunca
todos. Minha cidade, por ser centro turístico, com 10 km de praia, só tem
trabalho oito meses ao ano. Como pertence à Veneza, talvez fosse lá que eu
estaria trabalhando. Teria feito faculdade?
Não acredito. Dos trinta primos
nenhum se formou, só dois são contadores, mas não trabalham nessa área. Com
tantos primos eu fico imaginando como a fofoca correria solta, s minha mãe
dizia que corria muita fofoca. Todas às vezes que chegava à cidade e ia fazer a
primeira visita, já sabiam que eu chegara. A maioria das vezes eu e meu marido
alugávamos carro em Roma ou na Suíça, aproveitando trabalho e férias, e
conhecíamos outros países e cidades. Sempre fiquei em hotéis, nunca hóspede de
parente. Eles se espantavam ao chegarmos de carro e ainda mais sendo carro do
ano.
Uma vez um primo se admirou de
ver o nosso carro ser igual ao dele, que foi lançado naquele ano! Outro episódio
pitoresco quando fomos de férias com os três filhos ficando quarenta e cinco
dias rodando pela Europa, e passamos uma semana na minha cidade. Primeiro o
espanto de termos feito de carro tanto países. Fomos visitar uma tia irmã de
minha mãe, ela não parava de olhar para os meus filhos e inconformada falou
como pode? Eles parecem uns dos nossos. Quase todos não conheciam outros países
da Europa, no máximo a Suíça, porque iam trabalhar nas estações de esqui no
inverno. Naquela época quase ninguém sabia sobre o Brasil. Graças! Agora não é
assim, até a minha cidade se desenvolveu muito.
Se eu não viesse para o Brasil,
provavelmente pela minha aparência estaria trabalhando em alguma loja de
souvenir ou talvez recepcionista de hotel, pois a cidade é lotada de hotéis
grandes e pequenos e até acampamento para temporada de verão. Casaria cedo,
morando com meus pais três gerações na mesma casa, o que lá é considerado normal
ter esse conceito de família. Quando penso, o meu pai foi muito esperto em vir
para cá, enxergou ser um país do futuro, com mais oportunidade para ele e
filhos. Não temos nenhum parente aqui, mas sim fizemos muitos amigos.
Faço questão de ser chamada de
nona pelos meus netos, mas não me considero velha como com certeza eu seria lá,
cuidando da casa e netos, jamais teria lançado um livro para estar contando
esses episódios da minha vida.
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