EM TEMPOS DE VÍRUS,
ALEIRBAG-A
ESCREVIVER-Memorialista/Crônica
Maria
Luiza Malina
Ah!
Covid. Enquanto as vacas pastavam, Gabriela soltava a voz entre os timbres
agudos e graves, estremecendo a praga mais tenra entre as plantações.
Com
isto, também não ficávamos à vontade. Logo, nada podíamos falar. O falar
interromperia sua magistral voz entoante ou desentoante na desinformada
deseducação do cacarejar das galinhas. Fiquei sem fôlego!
As
vacas. Ah, sim as vacas! Mugiam e desmugiam no desenfrear que azedava o leite.
E nós, acorbertávamos as orelhas com algodão, disfarçando com o uso de faixas
de tecido, na testa com a desculpa de segurar os longos cabelos. Que castigo!
Acredito
que nem o arado, em tempos de plantação
superava a cantoria da Gabi, Biela, Gabizinha ou Gabriela. Aff!
Anos
se passaram. Tempos esses, dos grandes bailes de formatura. Cada uma seguiu seu
destino. Raras eram as notícias.
Uma
nota no semanário do único e maior Jornal da Região, como era chamado,
convocava a população para o evento: “Grande Baile Beneficente – O Rei das Mil
e Umas Noites apresentará à nossa sociedade, a futura Rainha Aleirbag-A, nossa
conterrânea. Traje social completo”.
A
curiosidade explodiu na pequena cidade. Os cochichos e diz-que-diz-que sobre as
jovens que foram tentar a vida na grande cidade, perambulavam de boca em boca.
Lembraram até de duas irmãs e duas primas que nunca mais retornaram ao
vilarejo, minha nossa! Ninguém escapava.
Os telefones não paravam. As fofocas caiam com injúrias e falatórios sobre as
então ausentes.
Foi
aí que a cobra comeu o rabo. Descobrimos entre as linhas cruzadas, digo, linhas
costuradas, o lado avesso da vida de cada habitante e o pior, de suas amantes.
A pequena localidade, passados o tempos,
transformou-me em Distrito, lotado de costureiras e cabeleireiras. Foi um
reboliço só na cidade, atrás do único advogado e do xerife, para impedir
possíveis matanças.
O
baile. Ah! Quase esqueço do baile, como todos quase esqueçeram.
O
quase! Ah! Este sim foi ótimo. Salão lotado. Cada qual exibindo em seu glamour,
a roupa mais bonita do que da outra. Não se preocupem, par de vasos, hmm por
sorte nenhum. Não adiantava. Queriam se destacar para seu homem que era o homem
da outra.
O
momento. Ah sim, o momento foi indescritível. O tal rei à postos. Alierbag-A
surge. Estupefatos, os homens a reverenciaram. Olhares. Rumores... imagine um
galinheiro com galinhas famintas e... chega o saco de 50 kg de milho... Foi
paulera da mulherada em cima deles e tudo quanto era lado.
Acabou
o baile. A chegada da Covid-19 nos aproximou.
Não
posso dizer que ao sair sobrou um pouco de milho para mim. Só se ouviu um som
ecoando: - “EUUUU...”
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