A INSTIGANTE CASA 33
Antonia
Marchesin Gonçalves
Às
tardes na varanda junto com a esposa, ele se enamorava cada vez mais pela casa
33. Aproveitava para pesquisar sobre os moradores idosos. Ficou sabendo que
eram imigrantes italianos e muito traumatizados pela segunda guerra mundial.
Ela contou que quando chegou ao Brasil e os aviões sobrevoavam no céu ela se
escondia debaixo da escada, por ser sobrado era onde se sentia segura.
Com a morte dos italianos
Edu conseguiu comprar o tão sonhado sobrado. Na reforma, o imprevisto, um imenso porão com uma entrada
secreta aguçou que sua curiosidade. Procurou vestígios de materiais que
pudessem ter sido estocados ali, nada encontrou. A curiosidade era tanta, que
ele foi ao Consulado Italiano e cartórios para saber mais sobre os dois idosos
e a casa. Lá para ser atendido teve que se munir de muita paciência, mas o seu
instinto o fez persistir.
Conseguiu saber que
chegaram ao Brasil já casados em 1949 e que o tal sobrado tinha pertencido a um
senhor israelita, que deixou como herança em nome deles. Ele conseguiu saber
sobre os herdeiros, tinham um casal de filhos.
Através disso ele entrou em contato com o filho mais velho do casal,
pois a compra tinha sido feita com a procuração do corretor, sendo que o casal
herdeiros morava na Argentina, por isso puseram à venda o sobrado. Marcelo marcou
com Edu videoconferência, no dia marcado Edu estava ansioso para conhecer
Marcelo e desvendar o segredo do porão.
Edu contou seu
encantamento pelo sobrado e de como estava feliz por tê-lo comprado. Marcelo
agradeceu e de boa vontade respondeu todas as perguntas de Edu. Soube então que
seus pais estavam na segunda guerra na Itália e ajudaram um casal israelita a
fugir dos nazistas alemães. Em Veneza existe até hoje um bairro só deles, eles
fugiram para a cidadezinha vizinha onde moravam seus pais que os esconderam e
conseguiram passagem de navio para o Brasil. Passaram a ser alvos de gratidão,
e o casal israelita deixou o sobrado como herança para os italianos.
O
porão? A pergunta que não queria calar.
Esse porão era usado
para esconder refugiados israelitas fugidos da Europa, que ali ficavam até
seguirem os seus destinos. Edu então entendeu o seu encanto pelo sobrado 33,
seu pai foi um deles.
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