SONHO ADIADO
Antonia Marchesin
Minha amiga Angela falando comigo ao telefone, feliz da vida, tinha conseguido
se aposentar. Como funcionária pública de carreira disse que conseguiria viver
confortável, que pretendia viajar bastante. Era seu sonho depois de cuidar dos
pais até morrerem, agora seria a sua vez. Não sendo casada e nem tendo filhos,
com certeza o sonho se concretiza.
Há mais ou menos um ano, antes dessa loucura pandêmica, eu feliz por ela, fomos
comemorar com amigas num barzinho na Vila. Conversamos muito lembrando quando
éramos vizinhas de porta no prédio em que morávamos. Eu já casada nos tornamos
amigas por afinidade, cúmplices e confidentes. Angela já era sozinha, os
parentes mais próximos moravam em Mato Grosso e eu há pouco tempo casada, me
adaptando nessa nova vida, tendo sempre trabalhado fora, me tornar do lar seria
um desafio.
Voltando à felicidade de Angela aposentada, já fazendo planos escolhendo qual
seria a sua primeira viagem. Como sua origem é de ingleses, resolveu que seria
lá que iria primeiro. Compradas as passagens viajou feliz, ficaria um mês e não
se limitaria só à capital Londres, mas também pelo interior visitar aqueles
castelos medievais e suas histórias. Quando estava para voltar, foi pega de
surpresa com o pico da pandemia e teve muita dificuldade para confirmar voos de
volta. Ligava todos os dias assustada em perder o voo, sem amigos ou parentes e
rezando para não ser contaminada, não tinha seguro saúde de viagem, e isso a
preocupava muito.
Acabou ficando mais um mês confinada no hotel. O que a salvava eram as nossas
conversas. Quando conseguiu voltar, ela sentiu dentro do avião o medo do
contágio, o ambiente tenso em todos os lugares.
Agora está em São Paulo, frustrada com a nova cepa
do vírus e à espera da vacina, adiando novamente o seu projeto de viagens da
tão esperada aposentadoria.
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