4º colocado
CONCURSO DE NATAL 2020
Presente de Natal
José
Vicente J. Camargo
Vou driblando
o corona vírus passando a pandemia na minha casa de praia revezando as
caminhadas pela natureza pujante com a
novidade do Home Office, despreocupado com eventual contágio, uma vez que o local
está isolado no meio da Mata Atlântica, abraçado
ao mar aberto e despovoado de outros semelhantes a não ser minha esposa, o que
me leva a supor que dificilmente o corona me achará.
Nesta
manhã ouço surpreso, vindo do silêncio da mata, os primeiros acordes do canto melodioso
e forte do sabiá laranjeira, a anunciar que a primavera chegou e que ele está à
procura de uma companheira para dar continuidade a sua espécie. Minha mente dá
um estalo! Primavera, Já? Cada ano passa mais rápido...e esse pensamento leva a
outro: “Então significa que o Natal está chegando. Não demora muito e já
estaremos festejando! ” Minha mente estala novamente, Festejando? Em plena pandemia?
Estão proibidas as aglomerações!
Meu
consciente que reluta em não aceitar esta imposição, dá um mergulho no passado
e traz lembranças, desde a infância, de tantos Natais festejados entre as famílias
parentes quando era costume se assistir primeiro a Missa do Galo – pontualmente a meia
noite –
para depois ter a ceia comemorativa que reunia, na maior casa do clã, todos os pais,
avós, tios, primos e amigos. Lembranças saudosas destas festas ainda trago comigo
que me incentiva, na terceira idade, repeti-las no âmbito da minha família com a
presença dos filhos, noras, genros e netos que chegam em casa −
hoje a missa foi antecipada para antes da comemoração − abraçados
a pacotes de papéis e laços coloridos espalhando-os ao redor da árvore de natal
para depois, bebericando as borbulhas do champagne, iniciar o “diz que diz” das
novidades e fofocas aguardando o chamado da Vó para se sentar à mesa aromatizada
de apetitosos e fumegantes quitutes, que serão degustados após a oração pelas
graças recebidas neste e as desejadas para o próximo ano.
Mas,
e o Natal deste ano com o Corona vírus ainda solto fazendo vítimas, como fica? Com
o tal “distanciamento social” sem abraços nem beijinhos, entrará para a
história −
assim como o ano, perdido, triste, que poderia ser arrancado da folhinha que
não faria falta. Porém Natal significa esperança que renasce com o Menino Deus,
que traz nova luz a iluminar nossos caminhos, a orientar-nos e, portanto, deve
ser festejado com alegria e confraternização. Para amenizar a situação do “não
deixei passar em branco”, vou ligar para meus três netos e perguntar o que
querem de presente de Natal. Pelo menos não sentirão tão abandonados do
espírito natalino pois, o presente do avô é, segundo eles, o melhor de todos
(pudera, sempre pergunto antes o que querem ganhar e nunca falho, apesar das
broncas da avó que acha que os acostumo mal).
Enquanto
procuro o número dos celulares penso: “ainda bem que gostam de tudo que é de última
geração, pois assim posso comprar pela internet e pedir para entregarem na casa
deles. Creio que vão pedir o novo celular 5G ou o último jogo eletrônico que
acaba de estrear no mercado. A neta, que quer estudar astronomia, acho que vai
querer um telescópio eletrônico, bem mais potente do que o último que lhe dei.
Ainda bem que meus dois filhos economizaram na linha sucessória permanecendo
nesses três netos, senão meu décimo terceiro não daria para cobrir o desejo da
avó de fazer um cruzeiro de navio no réveillon ...
O
resultado dos três telefonemas foi inesperado! Quando os indaguei sobre minhas
sugestões de presentes, foram unânimes na resposta, parece até que combinaram:
“Vô!
Que adianta novo celular, jogo eletrônico, vasculhar a Via Láctea atrás do rabo
do cometa se não tenho com quem compartilhar, torcer, brincar. Com distanciamento
social não dá! Não há presente que substitua o convívio dos amigos, o “cara a
cara, peito a peito”! Portanto o que mais quero de presente de Natal é:
− “A Maldita
Vacina!” Não importa de que país venha, mas tem de ser o mais rápido possível para
liberar minhas energias e principalmente o rosto dessa porcaria de máscara, não
aguento mais ficar sem fazer esporte, academia e de dar meus abraços e beijinhos
na galera ansiosa...”
Bem!
Dever de avô eu cumpri, perguntando! O presente desejado, que é o de toda a
humanidade, vai ter de esperar as complexidades dos poderosos. Eu,
particularmente, não sou Santo pra fazer milagres...
Nenhum comentário:
Postar um comentário