3º colocado
CONCURSO DE NATAL 2020
O menino que não gostava do Natal
Maria Verônica Azevedo
—
Natal! De novo?
Era
sempre assim. Nenhuma ilusão, sem visitas, sem escolhas, sem cartas.
Ficava
a olhar, pela janela, as ruas enfeitadas.
Nisso
entra a supervisora do orfanato. Era muito severa. Mas trazia uma boa notícia.
Finalmente uma família queria conhecer Fabrício.
Esses
não se importavam com a cor da sua pele.
Estavam
convidando Fabrício para passar a noite
de Natal com eles e os dias que antecediam o Ano Novo. O menino ficou perplexo.
Jamais
imaginara que isso pudesse acontecer. Ansioso, correu para se aprontar.
Nunca
havia andado de carro. Não que se lembrasse...
Quando
via crianças nas calçadas de mãos dadas com adultos... pensava que seriam os
pais. Os dele ele não conhecera, não que se lembrasse.
Mais
encantado ficou com a casa. Era grande, iluminada e toda enfeitada com coisas
que lembravam o Natal.
O
portão abriu sozinho!
Duas
crianças alegres vieram correndo em sua direção. Nas mãos, presentes para ele.
O
carro parou. Abriram a porta. Fabricio encabulado se encolheu no banco do
carro. Não sabia o que fazer. A menina, bem mais crescida do que o garotinho,
logo entendeu o braço e puxou Fabrício pela mão.
Sem oferecer
qualquer resistência, Fabrício acompanhou a menina.
— Eu
sou Verena. Tenho oito anos e você como se chama.
— Eu?
Sou Fabricio.
—
Prazer. Este aqui é meu irmão Bert.
O
menino, muito louro, o rosto coberto de sardas, aparentava uns três anos de
idade. Olhava curioso, porém não dizia nada.
Aí
ouviu-se uma voz de mulher que parecia chamar com uma fala estranha. Fabrício
perguntou:
— Por
que ela está falando tão esquisito?
Verena começou a rir.
— É
normal. Somos alemães. É a nossa mãe chamando. Vamos entrar logo. Temos uma
surpresa.
Seguiram
pela alameda do jardim. Cruzaram um extenso gramado ladeado por flores
variadas. Fabricio se sentia no Céu, mas bem encabulado. Tudo aquilo era muito
novo para ele. Levava nas mãos os
pacotes dos presentes. Estava no mundo da lua.
Enfim
chegaram à porta da casa. A senhora que Fabrício concluiu ser a mãe, os recebeu
com um abraço discreto. Fabricio imaginava que uma mãe fosse mais simpática e
carinhosa.
Ficou
pensando se ela era assim mesmo ou fazia cerimonia por ser alemã. Lembrou da
merendeira do orfanato que era alemã e muito fechada. Era difícil vê-la
conversar com estranhos. Nem o rapaz da padaria que vinha trazer o pão todo dia
conseguia quebrar o gelo dela.
Parado
ali, imerso em seus pensamentos, o menino não se mexia. Foi preciso Astrid cutucá-lo para ele voltar a atenção ao
que se passava. Aí todos se dirigiram para a sala de jantar onde o almoço
estava servido.
Fabrício,
bem encabulado, ficaria ali como convidado, durante as festas até depois do Ano
Novo. Foi
acomodado numa cama extra, no quarto das crianças.
No
segundo dia, após o Ano Novo, Astrid, a mãe de Verena, chamou Fabrício para
conversar. Sentados embaixo da grande paineira do jardim, o menino não dizia
nada. Então Astrid com voz suave e carinhosa perguntou:
—
Fabrício, você gostaria de ficar aqui conosco para sempre? Quer fazer parte da
nossa família?
Ele
ficou um instante boquiaberto sem saber o que dizer. Depois disse emocionado?
—
Sim. Eu quero muito. Mas como isso será possível?
— Eu
vou adotar você como meu filho.
Ela o
abraçou sem dizer mais nada. E ele se aninhou naquele abraço.
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