RESULTADO DO PRIMEIRO CONCURSO LITERÁRIO DO CLUBE ALTO DOS PINHEIROS


Saiu o resultado do concurso literário!! 
(em breve as fotos)





PREMIAÇÃO DO PRIMEIRO CONCURSO LITERÁRIO DO
CLUBE ALTO DOS PINHEIROS -  07/03/2020

Eu sou Ana Maria Maruggi – Monitora da Oficina de Textos EscreViver do Clube Alto dos Pinheiros, desde 2013. Por esta oficina muitos nomes já passaram, e outros tantos ainda permanecem. Duas vezes por semana nos reunimos para falar de um tema e escrever uma história sobre ele. E, anualmente nos esforçamos para que os participantes da Oficina realizem o sonho de editar seus livros, prêmio de consagração pelo contínuo exercício de escrever.
A atividade literária tem o poder de transformar as pessoas. Ela pode ser um ponto de distração e lazer, ou ir além disso envolvendo escritores de tal modo que atribuam métodos de escrita, adotem sistemas de exercícios diários, e publiquem livros.
Atualmente, muita gente, que de uma forma bastante sistemática têm produzido contos; poesias; crônicas, descobriram que escrever é uma maneira de aflorar sentimentos, emoções e de motivar a sociabilização.
Eu pergunto: Em que ponto da vida literária você se enquadraria? Nunca escreveu, mas gostaria de fazê-lo? Já escreve, mas ninguém examina seus textos? Já publicou um livro e tem ainda muitos textos para editar? Fica essa resposta no ar, ou venha escrever conosco.
É 2020, e no Clube Alto dos Pinheiros tivemos o nosso PRIMEIRO CONCURSO LITERÁRIO. A mesa julgadora composta de 2 professores, e 1 escritor, analisou o que chamamos de CRIATIVIDADE LITERÁRIA, ORIGINALIDADE, IMPACTO DA NARRATIVA, EMPREGO DE RECURSOS LITERÁRIOS. E, ainda que pequeno e singelo  este primeiro evento, tivemos oportunidade de premiar textos de excelente qualidade, alguns de autores conhecidos do Oficina de Escrita EscreViver, e outros que  revelaram nomes de associados que não pertencem à nossa Oficina, mas que estão convidados a fazer parte dos grupos.
Fiquei positivamente surpresa com o resultado deste concurso, e orgulhosa, ao mesmo tempo. Os textos eram tão bons que decidimos premiar não apenas o primeiro e segundo lugar, mas oferecer diploma de Menção Honrosa para mais dois textos.

Vamos à premiação?

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PRIMEIRA MENÇÃO HONROSA
A TAÇA DE CRISTAL
SUZANA DA CUNHA LIMA. 
Suzana criou uma prosopopeia, o próprio texto é uma figura de linguagem, uma personificação de objeto, uma taça de cristal, onde o objeto através do tempo envelhece juntamente com as pessoas,  e sofre as mazelas de ser exibido sem o requinte que tinha no começo da vida.  Vamos ao conto premiado:





A TAÇA DE CRISTAL – SUZANA DA CUNHA LIMA


Não sou desse tempo de hoje, banal, sem brilho e magia, onde até panela com comida se coloca na mesa nas refeições, quando não se come com o prato no colo vendo televisão.  Fui idealizado por um designer famoso, que me criou em puro cristal, com um pé ricamente trabalhado, e lindíssimos desenhos esculpidos com arte e maestria. Ele me imaginou servindo vinhos de castas especiais, em brindes nos salões suntuosos.  Ou na alcova da mulher amada acompanhando paixão e fantasia.

Frequentei as melhores mesas, os mais disputados restaurantes, as mais exóticas comemorações. 

Minha degradação começou quando fomos levadas para cruzeiros marítimos, depois postas em leilão e no final, arrematadas quando já não éramos mais doze. Parece que só tenho valor agregado às outras onze taças.

E o desleixo de alguns serviçais, foi acabando conosco, só eu restei. Desta maneira, passei para “o uso doméstico”, vejam só.  E esta mulher, que herdou o outrora belíssimo jogo de cristais do qual eu fazia parte, é muito tosca e me utiliza como um copo comum, de vidro barato, onde serve Coca-Cola ou outro refrigerante horroroso e dá para seu filho, um moleque sem nenhuma educação.

Ela não entende nada de refinamento nem de elegância, não sabe dar valor a uma obra de arte num material tão precioso como o cristal.


Não pude suportar mais tanta ignorância.  Tanto fiz que acabei caindo no chão. Antes destroçada e aos pedaços, do que servindo bebidas bregas, em mesas sem nenhuma classe ou elegância.



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SEGUNDA MENÇÃO HONROSA
O PÔR DO SOL 
ISABELA SARTORI PACHECO SILVA

Trata-se de  um conto que faz associação da QUADRILHA - de CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, publicada no livro Algumas Poesias em 1930, poesia versos livros sem rima onde ele nos apresenta os descompassos do amor. Os modernistas chamavam este tipo de composição de “poema piada”, isto é “tom brincalhão”. Quer conhecer a poesia de Drummond?

"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história"



Mais recentemente essa QUADRILHA inspirou também Chico Buarque na composição da música: FLOR DA IDADE:

"Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava  Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha"

E hoje premiamos o conto O PÔR DO SOL onde a autora expõe através de fluxo de pensamentos e conjecturas, as dúvidas amorosas de um casal que está sentado na praça Pôr do Sol em Pinheiros, assistindo ao espetáculo do pôr do sol. A Isabela também faz uso da estrutura da QUADRILHA de Drummond no seu conto. Vamos conhecer?  




O PÔR DO SOL -  ISABELA SARTORI PACHECO SILVA.


Estavam eles dois sentados. Ele, Carlos, e Ela, Dora, na Praça do Pôr-do-sol esperando o céu ficar amarelo, vermelho, e depois escuro. Os dois não se olhavam, quase não se encostavam, pareciam quase estranhos; não era o caso. O maior clima entre os dois, por uma simples coisinha. Na cabeça de cada um vinham os mais loucos dos pensamentos, mas um deles era comum: “Por que eu (não) disse isso?”

Carlos e Dora se conheceram na escola. Carlos era da sala de Lia, prima de Léa, amiga de Dora. Eles conviviam bastante por conta das duas meninas, se davam muito bem. Um dia era uma conversa, no outro um novo assunto. Uma risada aqui, uma piada ali. Um comentário singelo no corredor, uma troca de olhares discreta, uma coisa levou a outra e...

Beijaram-se na festa do Paulo. E de novo na festa do colégio, e mais uma vez na festa junina. Foram pegos pela faxineira, na sala de aula e no banheiro unissex. Saíram no fim de semana; num piscar de olhos estavam tão acostumados com a companhia do outro que eram quase uma extensão de si mesmos.

Até esse fatídico dia. Foram ver o pôr-do-sol juntos depois de saírem para um late lunch, até que ali, juntinhos, Dora disse que o amava. As três palavras ecoavam na cabeça de Carlos. Ele sabia, tinha quase certeza que gostava de Dora, gostava bastante. Mas era Amor? O Amor, mesmo, com letra maiúscula. Parecia cedo demais, mas sentia que precisava dizer alguma coisa. Mas não falou nada. Não queria falar nada, queria que não tivesse acontecido. Deixa quieto, vai que some. Tudo agora tinha mudado entre eles, e não havia nada que Carlos poderia fazer (ou ter dito). Logo foram saindo do abraço, as mãos não se tocavam mais. Ficaram mais um pouco assim; afinal, o pôr-do-sol ainda não tinha acabado.

Pouco tempo depois, o sol já vermelho marcava um fim. Tudo ficou escuro, olharam-se, desviaram; levantaram-se juntos, se despediram, combinando de conversar mais tarde. E eles conversaram até a madrugada, se viram no dia seguinte na escola, e no dia depois. Riram da mesma piada sem graça e trocavam olhares furtivos no corredor. Tudo parecia normal, mas aquele algo a mais pesava no ar.
Porque agora Dora amava Carlos. Que amava...?


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SEGUNDO LUGAR
AZUIS DEMAIS 
ISES DE ALMEIDA ABRAHMSOHN

Um conto de suspense onde a autora narra um fato da vida de um matador de aluguel. Essa narrativa vai entrando num crescendo que o personagem, assassino profissional, é obrigado a abandonar o corpo da vítima, coisa anormal, pois o pagamento só é realizado mediando a prova. Num segundo momento ele foge e dentro dele o fluxo de pensamento o faz mais apavorado. E a autora nos brinda com um "fantástico" para mostrar o quanto está perturbado seu personagem. 
Tem que ler para saber como vai rolar essa trama. 

MESA JULGADORA - COMENTÁRIO: Uma trama interessante dentro de uma narrativa de suspense e apelo literário significativo. Original, e muito criativo, o conto transcende os fatos para um momento imaginário. As ferramentas literárias são continuamente utilizadas trazendo para o enredo o impacto do desfecho.
Vamos conhecer esse conto?


AZUIS DEMAIS – ISES DE ALMEIDA ABRAHMSOHN

 O criminoso subiu as escadas já com a chave no bolso. Tinha recebido a chave pelo correio com instruções detalhadas. O dinheiro, só depois de feito o serviço. Alguém importante tinha que se livrar daquela mulher incômoda. Escolheu uma noite fria, garoenta, de calçadas vazias. Usava capa de chuva e um boné preto encobrindo o rosto. Na mão, um saco de lona.
No hall do segundo andar, antes de rodar a chave na fechadura, olhou de novo em torno. Ninguém. Ouviu um sussurro vindo do outro lado da porta: “Edgar, meu bem, não faz barulho... Cuidado. A vizinha ainda está acordada”

Empurrou suavemente a porta e descarregou dois tiros no peito da mulher. Ela caiu para trás com um baque surdo. O assassino fechou a porta. Silêncio...  Olhou para a vítima. Loira, por volta de 45 anos, bem cuidada, quase bonita. Apenas uma mancha de sangue no penhoar azul. Abaixou-se para verificar se ela tinha parado de respirar e deu de cara com os olhos da mulher. Imensos, arregalados e azuis. De um azul escuro, como ele nunca vira antes. Pareciam pintados, como nas estampas de santas dos calendários. Ia virá-la para enfiar no saco de lona quando ouviu a porta do apartamento vizinho se abrir e baterem na porta. Escutou a voz nervosa da vizinha: “Marilda, tá tudo bem?”

Escapou pela porta dos fundos deixando o cadáver ali mesmo. Melhor do que arriscar ser visto. Não sabia se iria receber a grana sem ter dado sumiço no cadáver. Logo depois já dirigia o carro pelas ruas desertas. Não conseguia esquecer os olhos azuis da tal Marilda.

Entrou finalmente no túnel Lagoa-Barra. Metade das luzes apagadas. Praguejou. Teve medo de ser assaltado. Olhava para os lados, nervoso. A malandragem se esconde nas sombras. Foi quando começou a ver as luzes azuladas nas laterais. Enfim, estão pondo iluminação decente no túnel. As luzes iam ficando cada vez mais azuis. Mas não eram luzes. Eram olhos azuis. Enormes e brilhantes olhos azuis, eram os olhos da Marilda. Estou alucinando, pensou. Fixou o olhar à frente e tentou prestar mais atenção. Daqui a pouco acaba o túnel. Piscou com força para afastar a visão perturbadora, mas os olhos luminosos o perseguiam, assustadores. De repente enxergou o fim do túnel. Acelerou. Ao bater no caminhão só escutou o estrondo. Antes de apagar de vez ainda viu aqueles olhos azuis. Tão azuis.... Azuis demais. 


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PRIMEIRO LUGAR
O IPÊ DESPEDAÇADO 
VANESSA KOPERSZ MING


Uma metáfora da vida apresentada de duas maneiras. A primeira pela mão da natureza que desnuda as folhagens do ipê para depois exibi-las revigoradas de acordo com as estações do ano. A outra metáfora está na associação dos altos e baixos da vida que exige que nós nos refaçamos sempre, que renasçamos das cinzas e que surjamos revigorados tal qual as folhagens de um Ipê na primavera e no outono.  O texto é original, e a narrativa é estruturada de uma forma bem engendrada quando compara a vida de Sofia que vê despedaçada como o ipê quando perde a folhagem. No entanto, Sofia já aprendeu com a natureza, sabe que precisa renascer, como renasce o ipê.
Vamos conhecer o conto?



O IPÊ DESPEDAÇADO – VANESSA KOPERSZ MING

Na primeira vez em que Sofia avistou o ipê, era janeiro. Fazia um calor avassalador e o céu brilhava em azul estourado, dispensando nuvens. Ela apenas torcia para aquele dia acabar. O ipê resplandecia intacto, amarelo, harmônico, sem pétalas no chão. Não parecia que em alguns dias seria debulhado por canários famintos pelo néctar das flores.

Mas harmonia era adjetivo riscado da vida de Sofia. Ela colecionava noites sem dormir, apoiada em ansiolíticos, enquanto montava seu quebra-cabeça particular: um casamento de 11 anos que se desfazia como qualquer ventania desfaz um ipê. As horas pingavam como conta-gotas. No trabalho, ela contava calhamaços de processos acumulados. Pelo retrovisor da vida, enxergava um fragmento embaçado da mulher que fora.

Naquela noite, revirou-se na cama algumas vezes e sonhou com o ipê. Mas em sua versão onírica, a árvore frondosa havia desidratado.

O despertador tocou e lembrou que um novo dia berrava. Na mesa da cozinha, uma xícara de café pela metade e migalhas de pão faziam companhia para o bilhete ‘Desculpe-me. Fiz o que pude’. Ele havia a deixado.

O coração de Sofia parou de bater por segundos. Ela sentou no chão e ali passou persistentes minutos. Desmarcou compromissos e sumiu. Não sabia o que fazer com as horas.

Alguns outros dias passaram como têm de passar - o tempo não pede licença. Um mês depois, ela foi à rua do ipê, agora destroçado, sem flores ou folhas, apenas esperando o ciclo da natureza para virar uma árvore verde como outra qualquer.

Sofia também atravessava seu processo. Mas desta vez, era ela quem juntava seus galhos, folhas e flores para recomeçar.

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Parabéns aos ganhadores!! Vejo vocês nos próximos concursos.
Parabéns aos participantes, todos eles. Aproveito e convido para participarem dos concursos que virão.
Obrigada pela carinhosa participação de quem esteve no evento de premiação que aconteceu hoje.
Infelizmente não puderam comparecer alguns ganhadores.
Agradecimento especial ao departamento Cultural: Norma, Daniel, Thiago e Telma.
Agradecimento ao departamento de Comunicação que trabalhou o troféu e os diplomas de Menção Honrosa.
Até nossos próximos concursos!
Boa sorte!

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