Cotidiano Alterado? - Maria Verônica Azevedo


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Cotidiano Alterado?
Maria Verônica Azevedo


         Em tempos de Corona Vírus, todo cuidado é pouco. Meu marido e eu como idosos que somos, estamos ilhados em casa longe da família e principalmente dos netos. Tempos muito duros estes em que vivemos.  Deixamos nosso apartamento em São Paulo em busca de mais segurança em matéria de saúde. Estamos em nossa casa de férias no Vale do Paraíba.

         Tudo nos preocupa, principalmente o abastecimento da geladeira e do armário de mantimentos. Precisávamos ir ao supermercado. Assim, saímos os dois de carro rumo ao Pão de Açúcar.

         Estávamos tensos, pois não sabíamos o que encontraríamos por lá... talvez um monte de pessoas apressadas em pânico com medo de ficar sem ter o que comer.

         Minha filha, como profissional da área de saúde que é, havia me alertado que meu marido tem o pulmão vulnerável e deveria permanecer em isolamento em casa.

         Mas, ele não se convenceu. Fez questão de ir comigo.

         Conclui que precisava ser rápida na atividade. Com uma lista em mãos, o plano era eu entrar na loja e fazer as comprar a jato para ficar o menos tempo possível lá dentro enquanto meu marido ficaria fora da loja me esperando para colocar as compras no porta-malas.

         Levei uma cesta grande para agilizar, pois assim não teria que embalar os produtos.

         A minha aflição já estava instalada antes de sair de casa. Adrenalina a mil.

         Quando chegamos na frente da loja a primeira surpresa. Havia um funcionário desinfetando os carrinho com álcool gel. Esperei uns instantes impaciente preocupada com a pressa na minha cabeça.

         Peguei o carrinho, afobada, sem nem mesmo agradecer direito ao moço.

         Com a lista na mão corria empurrando o carrinho pelos corredores entre as gôndolas, pegando as mercadorias na maior afobação.

         Dei um encontrão com a pilha de laranjas que se espalharam pelo chão. Nem ao menos olhei para trás.  Segui em frente. Fui catando frutas a esmo sem nem pensar direito. O carrinho foi ficando cheio e confuso.

         Continuei pelos corredores em busca de algo para substituir o pão que eu não iria mais buscar na padaria de manhã. Sem a menor noção de onde estaria tal mercadoria, corria a esmo entre os corredores empurrando o carrinho. Então notei que alguém me seguia chamando em voz alterada:

         — Senhora, espere! Posso ajudar?

         Ao olhar para trás para atender o tal chamado, dei de encontro com uma pilha de latas de leite em pó. Era lata rolando pra todo lado. Dois outros clientes com seus carrinhos começaram a gritar por socorro.  

         Foi quando surgiram dois seguranças ao meu lado. Um me tirou o carrinho das mãos e o outro perguntou pela minha lista de compras. Assustada e muito nervosa tentei reagir, mas foi em vão.

         Fiquei ali plantada vendo o meu carrinho se distanciar empurrado pelo rapaz. Uma moça se aproximou com um banquinho e um copo de água. Esperou que eu me sentasse e me deu o copo. Com lágrimas contidas, bebi a água. Estava com vontade de chorar, mas fiquei firme.

         Foi aí que tive a ideia de olhar para fora e vi meu marido super nervoso lá na calçada.

         Pouco depois chegou o rapaz empurrando o carrinho com minhas compras. Passou tudo no caixa, enquanto meu marido esperava próximo a porta com o cartão de crédito em mãos para pagar.

         Quando sai ele queria saber porque eu estava tão nervosa só por causa de uma comprinha no supermercado!



Um comentário:

  1. Querida Verônica pude sentir a sua aflição. Ainda bem que foram gentis com você. Grande 😘

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