Nossa quarentena doméstica - Suzana da Cunha Lima





Nossa quarentena doméstica
Suzana da Cunha Lima


Acho que ainda não caiu muito a ficha, porque sempre tenho muitas coisas a fazer em casa e o que faltava mesmo era tempo, que agora temos de sobra.

Faz cinco dias hoje.  No início da semana fomos fazer a lista das compras de mercado, para serem enviadas em casa.  Não estavam fazendo delivery.  Então filhos e netos se ofereceram, para trazer aqui em casa, porém  todos trabalham. Então um deles se intitulou o Homem da Rua.  O que é da rua é comigo, mãe.  O outro ficou à disposição e os netos em stand-by. Que máximo!

Então a primeira coisa positiva foi verificar a disponibilidade de minha família e sua preocupação com nossa saúde e bem-estar. Foi muito gratificante.  Já valeu.

Agora é que estamos numa rotina de casal.  Dormimos bem tarde e acordamos bem tarde também.  Tomamos um bom café da manhã e enquanto eu tiro a louça da mesa, meu marido vai limpando e colocando na máquina. Depois fazemos a cama. OK.

Ele vai para o computador organizar a vida financeira da família e dar uma olhada nos WhatsApp. Ele está com duas filhas e a ex-mulher nos Estados Unidos e uma preocupação enorme na cabeça.  Não há passagens aéreas. Ainda bem que o seguro viagem reembolsará quer despesa médica que façam. Eu sento na minha poltrona favorita e leio minhas mensagens, o jornal e o Caderno 2.  com a TV ligada nas notícias.  Hoje foi o primeiro dia que fez um tempo relativamente bom.  

Tenho um pátio bem grande aqui no edifício.  Colocamos o tênis e fomos dar uma andada lá.  Com 15 minutos, sentamos num banco, deixando um mormaço raquítico tentar dar um bronze no rosto.  Conversamos bastante, a brisa despenteando meus cabelos. Que paz!   

Estou escrevendo um livro policial e ele me deu boas ideias. Há muito para desenvolver ainda, mas a dois, tudo fica mais leve e divertido.  Nos permitimos imaginar um monte de situações bizarras.  Nisso lá se foi mais de uma hora.  

Voltamos para casa, tomamos banho e coloquei uma roupa bonitinha, batom e até colar.  Temos que manter a moral alta. Aí ele fez cappuccino para mim e um expresso para ele e anotamos o que seria necessário comprar em matéria de artigos higiênicos e medicação, eu de olho na TV.  Nada de novo a não ser a irritante atitude de nosso presidente diante de assunto tão sério como esta pandemia; "Eu resisti a uma facada, não é uma gripezinha que vai me derrubar". É demais!!!! Não vou me irritar. 

Está muito comprido isso. Vamos deixar o resto para amanhã.  Mas estou percebendo que este confinamento é uma ótima oportunidade de colocar os fatos da vida mais em foco e selecionar quais os realmente importantes.


Um comentário:

  1. Muito bom, Suzana! É isso. Estamos tendo que reaprender. Um grande 😘

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