AS BOLACHAS E O
POLITICAMENTE CORRETO
Oswaldo Lopes
Faz
algum tempo que esta curiosa e confusa história começou. Para que não restem
dúvidas a respeito da confusão, ela diz respeito a uma poderosa indústria de
material aviatório, de nome FERRANTI, inglesa com fortes laços em Edimburgo, na
Escócia. Não ajuda muito dizer que o fundador da indústria chamava-se Sebastian
Ferranti, nascido e criado no Reino Unido que como sabemos e ainda hoje vemos
não é tão unido assim. Creio não ser necessário, em São Paulo, explicar que
Ferranti é um sobrenome italiano.
O
pessoal da Ferranti tinha desenvolvido um espetacular caça a jato que conseguiria
decolar em pistas muito curtas e ganhar rapidamente velocidades vertiginosas.
Havia, porém um pequeno problema. No momento exato em que ia descolar do solo e
iniciar o voo, as asas eram arrancadas com forte tranco. Por pura sorte, os testes eram feitos em uma
pista longa e os pilotos de teste começavam a arrancada bem junto da cabeceira,
desse modo sobrava espaço para a frenagem e até agora ninguém se machucara. O
difícil era encontrar pilotos que ainda quisessem fazer os necessários testes.
Por
incrível coincidência encontrava-se em visita a Ferranti um experiente e famoso
piloto português, Felipe de Sacadura Coutinho.
Pelo
sobrenome creio que os leitores já o identificaram como um legitimo descendente
dos intrépidos pilotos portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho que passaram
a história por terem sido os pioneiros na travessia aérea do Atlântico
Sul. Não se tem dúvida de que foram
intrépidos e para ter certeza de que eram portugueses, basta observar-lhes os
nomes e ascendentes próximos.
- Carlos
Viegas Gago Coutinho
Filho de
José Viegas Gago Coutinho e Fortunata Maria Coutinho
Apesar
de também ser piloto, foi o navegador da viagem. Devemos-lhe a invenção de um
astrolábio aéreo que foi utilíssimo na navegação aérea, foi patenteado e muito
utilizado nos primórdios da aviação.
-Artur de
Sacadura Freire Cabral
Filho
de Artur Freire de Sacadura Cabral que, por vezes, tem seu nome grafado como de
Corte Real e Albuquerque. Casado com Maria Augusta Da Silva Esteves de
Vasconcelos (de solteira) que passou depois a assinar Maria Augusta de Sacadura
Cabral.
Foi o
piloto na famosa viagem, tenente da Armada era conhecido pelas suas qualidades
de aviador, desapareceu num voo Amsterdã – Lisboa e seu corpo nunca foi
encontrado, como aliás aconteceu com muito destes pioneiros da aviação.
A
outra maneira de saber que eram portugueses é lembrar as brincadeiras e piadas
que se fizeram a respeito dos dois, embora tenham sido muito festejados ao
término de sua jornada.
Uma
delas era uma charada;
— Fala com dificuldade, filho do Couto, não é esse
é o outro (4.2)
Fala
com dificuldade – Gago, filho do Couto – Coutinho, não é esse é o outro:
Sacadura (4) Cabral(2).
Pois
é, lá estava o Felipe de Sacadura Coutinho a contemplar o quarto protótipo de
famoso avião quando pediu uma furadeira de razoável porte e com ela passou a
fazer numerosos furos na junta das asas com o corpo o avião. Tendo feito isso
dos dois lados, declarou o avião pronto para os testes.
Desnecessário
dizer que não encontraram perto, nem longe, nenhum dos pilotos de teste da
Ferranti. Alguns se trancaram no banheiro fazendo sabe-se lá o que, e outros
mandaram cartas de demissão por via aérea que foi a mesma via que usaram para
cair fora, temendo sequer estar perto daquela barbaridade.
Isso
não desencorajou Felipe que sem paraquedas e como macacão que vestia, intrépido
como seus ascendentes, instalou-se no cockpit e deu a partida. O avião saiu
célere e alçou voo, Felipe orgulhosamente fez piruetas e rasantes, como que
querendo provar que sua ideia funcionara perfeitamente no aparelho da Ferranti
que não mais corria riscos de destroçar-se por arranco das asas.
Terminado
os testes pousou orgulhoso o aparelho e foi efusivamente cumprimentado. Mas,
como lhe ocorreu tão brilhante ideia? Era a pergunta mais frequente.
— Simples, dizia ele, é o principio da bolacha,
nunca quebra no picotado[1].
[1] Na verdade, como naquele tempo ainda não
tinham inventado o politicamente correto, Felipe afirmou que era o principio do
papel higiênico que nunca rasga no picotado. Hoje certas expressões soam melhor
quando acertadas para ouvidos sensíveis e delicados.
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