VELHO,
MEU QUERIDO VELHO...
Carlos Cedano
— Você já está
com dilatação suficiente, daqui a pouco virá a enfermeira para leva-la à sala
de parto - disse a Dra. Marlene para Angélica. Sua paciente tinha feito uma
gravidez sem complicações, e pela sua experiência seria um parto tranquilo e
sem demora.
Chegou a enfermeira e com cuidado acomodou a futura mãe na maca. Antes de saírem do quarto
Bernardo, seu esposo, se aproximou dela e carinhosamente a beijou dizendo:
— Te amo muito
minha esposa adorada. Vai com fé que tudo sairá bem.
— Paixão, você já
ligou pra seu pai? - Quis saber Angélica
- você sabe como ele está ansioso pra ver a cara de nosso pequeno Rafael.
— Agora mesmo vou
ligar pra ele, não se preocupe minha querida - respondeu Bernardo.
Subitamente Bernardo foi invadido por uma sensação que
nunca antes tinha experimentado, e que lentamente foi transformando-se numa
deliciosa e intensa tranquilidade, mas sem entender bem o que estava
acontecendo-lhe. Ligou logo pra seu pai:
— Pai? ...
— Nasceu? - Perguntou ansioso
o futuro avô.
— Ainda não, talvez
em uma hora. Mas, queria pedir-lhe que viesse antes, estou sentindo necessidade
muito forte de sua companhia e de seu carinho.
— Estou indo aí!
- Respondeu seu Norberto.
— Ok meu pai, te espero. Estamos no quarto 212. Até já
então.
No momento que a enfermeira chegou ao quarto
conduzindo Angélica também chegava o seu sogro. Após acomodar a nova mãe em seu
leito a enfermeira com sorriso brincalhão disse, dirigindo-se aos dois pais:
— O menino já nasceu, está tomando banho, após
o que fará sua primeira visita familiar.
Meio hora depois trouxeram o pequeno Rafael. Foi
recebido com contida euforia, mas com muita felicidade. Angélica o pegou em
seus braços e chorando viveu toda a emoção de contemplar seu primeiro filho. Após
alguns minutos o entregou para Bernardo que o recebeu com cuidado e enorme
sorriso no rosto. A emoção que mostrava o pai era particularmente grande e
intensa, e dirigindo-se a seu Norberto disse:
— Meu pai, o carinho que estou sentindo por este pequeno ser extrapola
todos meus afetos conhecidos, é uma sensação de plenitude.
— O amor dos pais
pelos filhos - respondeu seu Norberto - é considerado o amor perfeito por ser
incondicional, é preciso ser pai para saber quanto nossos pais nos amaram. E
hoje você está vivendo essa experiência que nos humaniza.
Entregando o pequeno Rafael para Angélica disse para
seu pai:
— Pois é meu pai,
hoje senti a intensidade do amor que você me deu a vida toda. Obrigado meu velho. Meu querido
velho...
No mesmo momento se abraçaram intensa e demoradamente
enquanto feliz e, também chorando, Angélica aos poucos foi adormecendo com um
rosto sereno e luminoso. Silenciosamente avô e pai saíram do quarto enquanto a
enfermeira cuidadosamente levava Rafael ao berçário para sua primeira noite
nesta vida.
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