OS
BELGAS NA COPA FIFA 2014
Carlos Cedano
Aquela manhã Manoel acordou
cedo. Precisaria chegar ao Aeroporto de
São Paulo rápido para buscar seus amigos belgas que estavam chegando ao Brasil para
assistir aos jogos da Copa da FIFA – 2014. Manoel já tinha providenciado tudo:
ingressos, programas de noitadas e visitas a cidades turísticas do Brasil.
Estacionou e correu até o portão de desembarque, não
esperou muito e logo viu aparecer três sorridentes pessoas, e abraçaram-se com
muita alegria. Mark, seu grande amigo da época de seu pós-grado em Bruxelas, Chantal
esposa de Mark e Jean Luc seu cunhado, que chamava a atenção por ser um rapagão
muito alto e com rosto que insinuava ingenuidade, tinha apenas dezenove anos.
Chegaram à casa dos pais de Manoel, onde saborearam um
almoço tipicamente caipira. Os visitantes ficaram admirados com a recepção calorosa
dos pais e sentiram-se em família. Mais tarde, após um merecido descanso, sentaram-se
para ajustar o programa da noite e o do dia seguinte dia da abertura da Copa.
Chantal lembrou então:
— No
avião me disseram para não deixar de conhecer a Vila Madalena que é um lugar de
muitos bares, restaurantes e com muito “agito”.
— Querida
amiga, estamos a menos de trezentos metros da Vila Madalena, esta noite iremos
conhecê-la, e vocês vão gostar! - Disse o anfitrião com entusiasmo.
Eufóricos viram chegar a noite, e lá foram para a Vila
Madalena:
— Essa
tal de “caipirinha” está famosa no mundo, gostaria de “conhece-la pessoalmente”
- disse Mark.
— Eu
também, disseram ao mesmo tempo Chantal e Jean Luc.
— Muito
bem! - disse Manoel chamando o garçom,
já pedindo as caipirinhas de limão, e porções tipicamente brasileiras.
Alegres, aproveitaram a noite para botar
a conversa em dia, rir muito, falar sobre São Paulo, lembrar-se das aventuras
em Bruxelas. E junto com a conversa, outras
“Caipirinhas” vieram.
Até que Manoel propôs:
— Vamos
pra casa, amanhã será um dia intenso e convêm chegarmos cedo ao local da abertura
da Copa.
Acordaram cedo e
partiram rumo ao estádio onde curtiram intensamente
o jogo entre a Croácia e Brasil, embora
ninguém do grupo concordasse com o pênalti a favor da equipe brasileira.
Na volta pra casa Mark perguntou a Manoel se eles poderiam
ir outra vez para o “agito” da Vila Madalena,
tinham gostado muito do lugar. Bien sur! Respondeu Manoel. Porem, desta
vez a Vila parecia uma Babel. As ruas bem cheias, pessoas de diferentes nacionalidades
numa bela mistura de cores, fantasias, músicas além dos diversos idiomas.
Enquanto procuravam lugar em um bar, um grupo de pessoas percebeu sua situação e
deram um “jeitinho” para que coubessem os quatro “novos” amigos na mesa que
ocupavam, os belgas ficaram gratamente surpresos com a gentileza.
Foi nessas circunstancias que Jean Luc conheceu uma
bonita morena chamada Amanda, houve sedução por parte dela e Jean Luc ficou
logo fascinado pela menina, eles conversaram durante todo o tempo e ficaram de
se encontrar na sua volta da viagem que faria com o grupo para acompanhar os
jogos da Bélgica.
A menina era linda mais tinha duas características:
era muito baixinha apesar dos saltos que usava, e tinha uma voz estridente que chamava
fortemente a atenção das pessoas próximas, e das não tão próximas. Tinha como se diz, uma
voz de gralha. De repente viram Chantal voltando do toalete apressada e
nervosa:
— Que foi? - Quis
saber Mark preocupado.
— Nada grave, respondeu Chantal, e continuou - quando
voltava pra a mesa um mexicano me abordou e me propôs insistentemente casamento
enquanto outro tocava violão e cantava romanticamente. Pareceu-me assedio.
Todos riram e aliviaram seu susto brindando ao sucesso
de sua beleza e continuaram conversando e bebendo enquanto Chantal se
recompunha do inesperado incidente.
No dia seguinte os quatro partiram numa Van. Iriam
primeiro para Belo Horizonte, depois para o Rio e finalmente retornariam a São
Paulo. Amanda não iria, mas esperaria a volta de Jean Luc contando os dias, os
dois estavam tristes com a separação momentânea, mas resistiriam à “saudade”.
A viagem foi maravilhosa. A Bélgica ganhou seus dois jogos,
conheceram lugares fascinantes cheios de história além de adorar as artes
populares mineiras. No Rio foi a magia do mar, a beleza e cadência dos corpos
dourados nas praias, a visita aos ícones turísticos cariocas porem, o que mais
os fascinou foram as apresentações das Escolas de Samba. Jean Luc caiu nas
redes de uma jovem passista que fazia charminho pra ele, os três acompanhantes
seguraram seu ímpeto firmemente.
Em São Paulo o time da Bélgica continuava sua marcha
vitoriosa, venceu a Coreia do Sul e disputaria as Oitavas de Final em Salvador
contra os EUA, também ganharam dos Americanos passando para as quartas de final,
a Bélgica nunca tinha ido tão longe numa Copa do Mundo, estavam exultantes.
O jogo das quartas de final foi em Brasília contra a
poderosa Argentina, apesar da bela campanha des
diables rouges, não deu. Perderam. Ficaram tristes, mas a derrota não
chegou a ser uma tragédia.
Voltaram para São Paulo, e à noite fomos para a Vila
Madalena encontrar Amanda. A quantidade de pessoas era enorme pela chegada
massiva de argentinos, o que dificultou encontra-la. Ela estava quase afogada
pela multidão num canto da entrada do bar, o jovem belga escutou sua inconfundível
voz, foi ao seu encontro, e resgatou-a “heroicamente”, trazendo-a no colo para
onde estávamos.
Após um tempo de conversa e como era a última noite dos
visitantes acertaram com Amanda para
encontrá-la no aeroporto no dia seguinte a meio dia.
Durante a manhã os viajantes arrumaram suas malas e as
lembranças compradas nas viagens, eram poucas, mas de bom gosto, os três
estavam orgulhosos e felizes com os presentes que levavam, o pessoal da Bélgica
iria adorar.
Chegando ao aeroporto, despacharam as bagagens e foram
tomar um café. Pouco despois chegava Amanda. Jean Luc levantou-se para ir a seu encontro, o
espaço aberto acentuou o contraste de altura entre os apaixonados chamando a
atenção de quem passava por perto, muitos sorrisos irônicos ou de surpresa, mas os pombinhos não estavam nem aí.
Passou o tempo e fizeram a chamada para o embarque, o grupo esperou
alguns minutos; no seguinte chamado, o jovem casal teve que ser apressado por
Chantal.
— Estamos indo - disse Jean Luc que já tinha os olhos
marejados de tristeza de deixar Amanda. Ela também bastante emocionada chorava
sem parar.
À medida que os amigos se aproximavam do embarque, Mark disse:
— É... O
amor e cego!
— E surdo
também! Concluiu Chantal
Os três riram, e desapareceram ao transpor o portão de
embarque.
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