O
egoísta
Fernando
Braga
Quando criança é comum você
apresentar vários defeitos de personalidade, cometer alguns pecados capitais,
muitos deles, atenuados com o seu amadurecimento e principalmente pela educação
dada por seus pais, o exemplo em casa.
Certa feita, aos oito anos de idade, minha
irmã, um ano mais nova, chegou chorando para meu pai, se queixando que eu era
muito egoísta, não dava nada para ela, não dividia nada, queria tudo só para
mim. Na realidade eu é que achava isto dela, mas nunca fui me queixar. Meu pai,
calmamente, ouviu suas queixas e acabou concordando com algumas delas. Disse:
— Não quero brigas, vocês
dependem um do outro, são irmãos e devem conviver harmoniosamente, ajudando-se
mutuamente, isto é, um ao outro. Ambos estão errados.
Chamou-nos a seu escritório,
colocou-a em uma poltrona e deu-lhe um livro infantil para ler. E a mim, mandou
sentar-me em sua escrivaninha, deu-me um lápis, várias folhas de papel, para copiar
três vezes uma determinada história. Disse que iria até o centro da cidade, que
demoraria umas duas horas e que quando voltasse iria cobrar o que havíamos
feito. Comecei a cópia de imediato.
A história era muito
interessante, que me lembro até hoje.
Dizia respeito a um indivíduo muito egoísta, ambicioso,
que nunca ajudava ninguém, queria tirar proveito de tudo e de todos, só pensava
em si, no seu bem estar. Morreu e foi para o inferno! Lá chegando, começou seu
sofrimento. Não se conformava com a realidade de ter ido parar naquele lugar. Via
as almas penando, mas mereciam, porque eram ruins. Mas, ele. Que sempre fora
tão bom, que sempre havia realizado boas ações, não poderia estar ali. Queixou-se tanto, tanto, que um dia, desceu
um anjo para ouvir suas mágoas, e a injustiça de ali estar. O anjo pediu a ele
que citasse apenas uma obra de caridade que havia realizado na terra. Ele
pensou muito e nada lhe vinha à mente. Subitamente, lembrou-se de algo que
havia feito de bom. Disse ao anjo:
— Certo dia, estava eu sentado
em um banco de jardim, quando caiu em meu colo uma pequena aranhinha. Logo
levantei a mão para esmaga-la, mas na hora pensei: “É tão pequenina, não faz
mal a ninguém, porque vou esmaga-la?” Enxotei-a.
O anjo concordou e disse:
— Realmente, foi um ato de
misericórdia, um ato de bondade. Pois bem, hoje mesmo, esta aranhinha, que você
preservou, vai soltar um fio fininho que vira do céu até aqui. Agarre–se firmemente
ao fio e por ele suba até o céu. Combinado?
O indivíduo ficou, ansiosamente,
esperando pelo fio, até que em dado momento, o viu. Agarrou-se fortemente a ele
e começou a subir. Já ia a grande distância quando olhou para baixo e viu que outras
almas também agarraram-se ao mesmo fio para escapar do inferno. Quando notou isto,
sua reação imediata foi de raiva e começou a chutar a cabeça dos que vinham
atrás, dizendo:
— Larguem o fio, ele é meu, vocês
não podem usá-lo. É frágil.
Dito e feito, o fio partiu-se e
todos caíram novamente no inferno. O anjo voltou-se para ele e disse:
— O fio desta aranha era muito
forte e não se partiria mesmo que, todos do inferno usassem ao mesmo tempo. O
que fez o fio partir foi simplesmente o seu egoísmo, em não deixar que os
outros também, tivessem a mesma chance de salvação.
Quando meu pai voltou, minha
irmã quis logo contar a história que havia lido. Eu esperei e antes que meu pai
se manifestasse, entreguei a ele as três copias e comentei:
— Obrigado papai. Prometo que vou
melhorar no meu egoísmo.
Ele apenas passou a mão em
minha cabeça
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