Lembranças de criança - Fernando Braga


Lembranças de criança
Fernando Braga                                                                                                                     
O tempo passa rapidamente, ou melhor, não é o tempo que passa, somos nós que passamos e quando ficamos velhos, nos restam recordações. Muitas são tão marcantes, que nos parecem que se deram ontem e boa parte delas está relacionadas com a presença de nossos pais, que há dezenas de anos, se foram. Algumas delas estão bastante vívidas em meu subconsciente.

Meu pai, para mim era, realmente, um herói. Homem bom, ponderado, justo, admirado por todos. Mas, que não deixava de me castigar fisicamente, quando algum mau procedimento meu o afetava. Cascudos, tapas e principalmente sovas com cinta eram comuns, quando hoje, por lei, você não pode usar nenhum destes métodos educativos, mesmo sendo seus filhos. Mesmo tendo apanhado muito, o que guardo de meu pai é apenas sua ternura.

 Certa ocasião, no início da noite, estava ele sentado no alpendre quando houve um corte da energia, a luz se apagou, ouve um silêncio, minha mãe procurando velas, quando se ouve um grito forte da empregada na cozinha, onde deixou cair um copo cheio d água. No escuro, todos foram socorre-la.

— O que aconteceu, perguntaram?

— Foi o seu filho, que quando a luz se apagou, por trás levantou minha saia e abraçou as minhas pernas!

Eu devia ter uns 9 anos. Meu pai me chamou, pegou pelo braço e me levou para o quarto dizendo:

—Você vai apanhar seu safadinho.

Com força me jogou em cima de sua cama de casal e foi abrir o guarda-roupa procurando a cinta, que ficava pendurada. Com a força que me jogou, fui parar no chão, rolando ainda, debaixo de uma cama de solteiro ao lado. Pegou a cinta, dobrou-a e começou a palpar raivosamente em cima da cama, me procurando.

— Onde você está seu sem vergonha? - E não me achava. Nesta hora, respondi:
— Estou aqui no chão.

— Venha cá, imediatamente.

 Levantei-me e fui ao seu encontro, esperando o pior. Nesta hora, não sei o que se passou pela cabeça de meu pai, mas ele me agarrou e me largou dizendo: desta vez você escapou. Pode ir.


Mais tarde, percebi meu pai e minha mãe conversando baixo e dando risada. Percebi que falavam de mim.

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