Com
Netuno não se brinca
Sérgio
Dalla Vecchia
Lua
de mel, período marcante para os casais, momentos felizes com muito amor e novas
experiências, normalmente vividos em terras além-mar por noivos mais
afortunados.
Bruno
e Cintia casaram-se, sendo agraciados com uma viagem para a Europa bancada
pelos pais.
Primeiro
Lisboa, depois Madri e finalmente Paris, foi a rota escolhida.
Já
em Paris, alugaram um automóvel e rumaram para a Normandia, região litorânea
dos ventos incertos, fortes, grandes marés e lindas falésias escarpadas.
Cenas
de guerra, naufrágios e os imponentes faróis convidaram o casal a conhecê-los
in loco.
Após
serpentearem pelas pitorescas estradas, chegaram à cidade de Étretat. Lá se
encontraram com falésias, que erodidas pelo mar por anos a fio formaram
diversas grutas e também praias paradisíacas.
Empolgados,
pisavam na branca areia, carimbando-a com as solas dos pés, enquanto rodopiavam
de alegria em abraços unissos.
Assim,
fotografando, fazendo poses, caminharam até chegarem a uma gruta.
Curiosos
transpuseram a apertada boca de entrada, reclinados com água nos joelhos.
O
que viram foi deslumbrante! Havia uma piscina natural azul, que, contrastando
com a incidência dos raios solares, formavam uma aura singular.
Radiantes
penetraram mais a fundo, singrado o azul da piscina salgada, de onde tiraram
mais fotos, trocando beijos e carinhos intermináveis.
Assim,
o tempo foi passando e a maré subindo.
O
casal só se deu conta do ocorrido quando se desenroscou dos carinhos e resolveu
retirar-se da gruta. Era tarde demais, não havia mais saída, a maré recheou por
completo a entrada.
O
desespero aflorou. O que fazer! Martelava nas cabeças dos jovens.
Então
Bruno, observador que era, notou vestígios deixados pela maré nas pedras, e a
que lhe pareceu mais segura para se protegerem das águas foi uma rocha grande
mais ao fundo. Rápido, tomou a esposa nos braços e para lá se dirigiu.
Já
sobre a pedra, desceu a companheira, que, apavorada, não parava de gritar.
—
Vamos morrer, socorro!
O
marido, a muito custo, conseguiu acalmá-la, prometendo que não morreriam ali de
forma alguma. Netuno não permitiria!
Assim,
abraçados como nunca no topo da pedra grande, somente ouviam o som do mar
raspando nas pedras acompanhado pelo bater acelerado dos corações.
Nada
a fazer, apenas aguardar!
Flashes
de momentos passados pipocavam o casal.
O
início do namoro há cinco anos era o que mais pensavam:
A
mão na mão, arrepios e logo mais o inesquecível primeiro beijo que selou o
início do namoro.
O
casamento parecia estar acontecendo naquela gruta, tamanha a lucidez dos
noivos, acuados pelo destino incerto e abraçados tremendo de pavor, aguardavam
a providência divina.
Assim,
lavando os pés dos jovens, a preamar atingiu sua cota máxima e passou o bastão
da esperança para a baixa-mar, que a levou junto ao corpo até transpor a
estreita saída para a vida.
Netuno
não se arrependeu de salvá-los.
O
amor prevaleceu!
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