Cabelos perfumados - Ledice Pereira

 




Cabelos perfumados

Ledice Pereira


 

Aquele cheiro de cabelo lavado invadia o ambiente. Tudo ali cheirava a xampu. Mas, onde andaria Gabriela? Procuraram por todos os cantos. Vasculharam cada centímetro do quintal, do ateliê, que ficava no fundo, das ruas de terra, adjacentes. Nada.

Há alguns dias, Gabi não respondia aos chamados telefônicas da família. Estavam todos preocupados. Os rastros de pé molhado indicavam que ela havia saído do banho em direção à porta que ficara semiaberta.

Todos se perguntavam aflitos o que teria acontecido. Cada grupo saiu para uma direção à procura de sinais que levassem a alguma direção.

Aquele perfume os levaria a algum lugar.

A família se perguntava por que não tinha impedido a jovem de se enfiar naquele fim de mundo cercada de floresta por todos os lados.

Os cheiros de mato se misturavam. Eucaliptos, Pinheiros, Manacás, Bromélias, Capim Cidreira, tudo fazia com que os cães farejadores pudessem se perder na procura daquele perfume molhado dos cabelos de Gabi.

Estavam a perder a esperança quando deram com aquela figura que vinha trôpega em sentido contrário. Não se parecia com a jovem cheia de vida que todos conheciam. Ao vê-los, deixou-se cair sem sentidos.

No hospital, para onde a levaram, passou por exames. Havia marcas de amarras em seus punhos, seu corpo estava marcado por picadas de insetos, os cabelos estavam emaranhados, embora ainda exalassem aquele perfume adocicado que direcionaram os cães, e as roupas rasgadas revelavam sinais de agressão. Teriam que aguardar que ela saísse do coma para se inteirar do acontecido.

Só sabiam que não permitiriam mais que ela vivesse ali isolada.

 

 

 

 

Cheiros e Lembranças

 

Ainda hoje posso sentir aquele gosto amanhecido de pãozinho francês, que me remete aos momentos de infância passados na casa dos meus avós.

Fecho os olhos umedecidos pela saudade e enxergo a figura do meu avô, lépido e baixinho, preparando com amor o lanche da tarde.

Era ele que passava o café que perfumava o ambiente atravessando o cômodo e atraindo-nos para a cozinha.

Como esquecer aqueles momentos tão simples, tão sinceros?

Saudade de uma infância com cheiro de carinho.

 

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