A vida dá reviravoltas
Silvia Villac
— Papai esteve aqui? Perguntou Laura, tão logo
abriu a porta de entrada.
— Você sabe que não! Respondeu sua mãe com uma voz meio exasperada. — Aquele homem jamais colocará os pés aqui novamente!
O perfume que Dr. Paulo sempre usara a vida inteira ainda estava impregnado nos ambientes do apartamento.
— Mamãe, temos que reformar e pintar tudo por aqui, para ver se conseguimos apagar essa maldita lembrança olfativa.
Após 33 anos de casamento, Dr. Paulo resolvera sair do armário e comunicou a todas — sua mulher e as duas filhas — que estava saindo de casa para viver com seu novo grande amor: o dentista da família!
O que era para ser um dramalhão acabou por se tornar a própria tragédia grega. O almoço que estava servido, cuja iguaria lembrava um típico bistrô francês, permaneceu intacto e só se ouviu o arrastar da cadeira quando ele se levantou e saiu pela porta da frente.
O som da batida da porta ecoou como um estrondo de uma pedreira sendo dinamitada e, por alguns minutos, que pareceram horas, só se ouvia aquele silêncio perturbador tomando conta do ambiente.
Laura foi a primeira a se manifestar, dizendo
ser o fim dos tempos. A mãe, visivelmente chocada, não conseguiu balbuciar uma
única palavra sequer e foi Isabel, a filha mais velha, que tomou as rédeas da
situação, informando a elas que aquele velho sem vergonha ia ficar sem um
tostão:
— Ele perde o dinheiro e nós perdemos o
dentista!
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