WILLIAM SHAKESPEARE
William Shakespeare
(1564-1516), além de ter sido um dos maiores dramaturgos de todos os tempos,
foi também um poeta lírico estupendo. Os seus sonetos, em especial, são até
hoje paradigmas de excelência poética:
Sonnet XVIII
Shall I compare thee to a summer’s day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer’s lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimmed,
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature’s changing course untrimmed:
But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow’st,
Nor shall death brag thou wander’st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow’st,
…….. So long as men can breathe, or eyes can see,
…….. So long lives this, and this gives life to thee.
Soneto 18
Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.
Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
Tradução de Bárbara Heliodora
Em: Poemas de amor, William Shakespeare, Tradução de
Barbara Heliodora, Editora Ediouro:2001
Sonnet XXVI
Lord of my love, to
whom in vassalage
Thy merit hath my duty
strongly knit,
To thee I send this
written embassage,
To witness duty, not to
show my wit:
Duty so great, which
wit so poor as mine
May make seem bare, in
wanting words to show it,
But that I hope some
good conceit of thine
In thy soul’s thought,
all naked, will bestow it:
Till whatsoever star
that guides my moving,
Points on me graciously
with fair aspect,
And puts apparel on my
tottered loving,
To show me worthy of
thy sweet respect:
…….. Then may I dare to
boast how I do love thee;
…….. Till then, not
show my head where thou mayst prove me.
Soneto 26
Meu amado senhor, a quem sirvo submisso,
Cujo mérito, enfim, enlaçou meu intento,
Por escrito te envio este meu compromisso,
Atestando o dever, porém não meu talento.
Grandioso dever! Meu engenho conciso
Não consegue expressá-lo e ei-lo aqui: nu em pelo;
Mas espero que teu refinado juízo
Com alguma clareza consiga envolvê-lo.
Isso até que uma estrela qualquer com seu brilho
Me conduza p’ra perto de teu belo ser,
Adornando com fausto este amor maltrapilho
E mostrando-me digno de teu benquerer.
…….. Só então ousarei divulgar ter-te amado;
…….. Até lá, não me exponho p’ra não ser testado.
Sonnet XL
Take all my loves, my
love, yea take them all;
What hast thou then more
than thou hadst before?
No love, my love, that
thou mayst true love call;
All mine was thine,
before thou hadst this more.
Then, if for my love, thou
my love receivest,
I cannot blame thee, for
my love thou usest;
But yet be blam’d, if
thou thy self deceivest
By wilful taste of what
thyself refusest.
I do forgive thy
robbery, gentle thief,
Although thou steal thee
all my poverty:
And yet, love knows it
is a greater grief
To bear love’s wrong,
than hate’s known injury.
…….. Lascivious grace,
in whom all ill well shows,
…….. Kill me with spites
yet we must not be foes.
Soneto
40
Rouba, sim, meus amores,
amor, eles todos,
O que acaso tens tu que
não tinhas outrora?
Verdadeiros amores,
nenhum, só engodos;
O que tenho era teu, e
isso não é de agora.
Pelo amor que me tens
meu amor me tomaste,
E de usar meu amor nunca
posso culpar-te,
Entretanto te culpo, se
tu te entregaste
Por capricho a quem
sempre deixavas à parte.
Eu perdoo teu roubo,
ladino gentil,
De ti mesmo furtaste
esta minha pobreza;
Eis que o amor sempre
soube que é muito mais vil
Suportar-lhe os enganos
que a dor da crueza.
…….. Graça cúpida, fonte
de males extremos,
…….. Com desprezo me
mata, mas nunca lutemos.
A "CONSPIRAÇÃO" POR TRÁS DA AUTORIA DAS OBRAS DE WILLIAM SHAKESPEARE
Há séculos, estudiosos discutem se as obras do bardo foram realmente escritas por ele ou por um grupo de dramaturgos e poetas
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Intrigas, paixões, discórdias e polarizações. O que parece descrição de uma peça de William Shakespeare é, ironicamente, parte dos tons shakespearianos do debate sobre a identidade do autor de sua obra. Duvidar que o filho de um fabricante de luvas de Stratford-Upon-Avon é o mesmo gênio por trás de clássicos como Hamlet e Romeu e Julieta não é novidade.
Em 2011, Hollywood embarcou de vez na onda cética com Anônimo. Pelo argumento do filme, Shakespeare era apenas o testa de ferro do verdadeiro escritor talentoso, Edward de Vere, o 17° Barão de Oxford. Em 2013, o contra-ataque veio na forma de Shakespeare Sem Sombra de Dúvida, uma coleção de ensaios reunindo alguns dos mais renomados estudiosos da obra do bardo na forma de um detalhado desmanche dos argumentos dos que duvidam da versão oficial dos fatos.
Assim como Montéquios e Capuletos, a questão da autoria também se divide em clãs tão passionais como os dos amantes da tragédia. Stratfordianos são os que defendem o status quo. Os oxfordianos advogam a causa de De Vere. O cenário se complica porque existem subdivisões entre os céticos, desde os que acenam com candidatos mais polêmicos a autor das peças e sonetos, como o poeta Francis Bacon, a acadêmicos que apenas levantam dúvidas sobre a história oficial - como é o caso de Bill Leahy, coordenador de um programa de pós-graduação em estudos autorais de Shakespeare da Universidade de Brunel, em Londres.
"Existem razões suficientes para questionarmos se William Shakespeare de Stratford-Upon-Avon foi capaz de produzir esse imenso volume de peças e sonetos. Isso por si só é uma razão para estimularmos o debate e o estudo, cumprir nosso dever como acadêmicos", afirma o expert em literatura do Período Elizabetano (o reinado de Elizabeth I, entre 1558 e 1603).
O problema é que colegas de Leahy não costumam receber com seriedade argumentos questionando a linha oficial. Stanley Wells, presidente do Shakespeare Birthplace Trust, a ONG que cuida do legado do poeta em Stratford-Upon-Avon, classifica o ceticismo como mera teoria conspiratória.
Mas há razão para dúvidas? O problema é a falta de documentos sobre William Shakespeare. O pouco que se sabe sobre o homem que nasceu em Stratford é que viveu entre 1564 e 1616 e ganhou dinheiro trabalhando como ator, sócio do Globe Theatre em Londres e até como comerciante de grãos. Nenhum de seus manuscritos sobreviveu. O mais importante documento ligado a ele é o Primeiro Folio, uma antologia impressa de 36 peças publicadas em 1623 com a assinatura de Shakespeare e o mais antigo retrato do homem de Stratford.
Poucos registros
Para alguém tão prolífico com a pena, a ausência de uma profusão de documentos ajuda a alimentar o ceticismo. Ainda mais porque um dos poucos registros deixados por William Shakespeare são assinaturas em que seu sobrenome, por sinal, é soletrado de maneiras diferentes, o que faz com que muitos anti-strat-fordianos usem as discrepâncias como evidência de que o filho do fabricante de luvas não teria cacife para produzir tamanho material. "Há estudos mostrando que o autor das peças e sonetos teria um vocabulário composto de 17 mil a 29 mil palavras. Me parece um pouco improvável que alguém com origens mais humildes no Período Elizabetano tivesse capacidade intelectual de produzir tamanha obra", afirma o jornalista Mark Anderson, autor de Shakespeare by Another Name ("Shakespeare com outro nome"), livro de 2006 que defende a causa de De Vere.
Oxfordianos têm boas suas razões para defender o barão. O argumento principal é que só alguém como De Vere, com enorme trânsito na corte, poderia exibir o conhecimento sobre bastidores da nobreza que tanto permeia as peças de Shakespeare envolvendo reis e aristocratas. Mais interessante é o fato de que o barão viveu na mesma Itália que é palco de alguns dos mais populares textos shakespearianos, como a Verona de Romeu e Julieta e a cidade de O Mercador de Veneza, funcionando como uma espécie de embaixador de Elizabeth I.
"Parece-me um nível de conhecimento fora de comum para alguém que, de acordo com o que há de registros oficiais, jamais saiu da Inglaterra, enquanto existe extensa evidência da passagem de De Vere pela Itália. Ele esteve nas dez cidades que Shakespeare cita em sua obra", diz Anderson. O barão também foi um notório mecenas das artes, dono de duas companhias teatrais, além de escrever poemas. Mas De Vere morreu em 1604 e as peças continuaram aparecendo. Uma delas foi A Tempestade, que de acordo com estudiosos se baseou em um famoso naufrágio de 1609, envolvendo uma missão de povoamento enviada aos territórios hoje conhecidos como Estados Unidos.
Céticos também apontam para a mediocridade do testamento de Shakespeare. Escrito em linguagem nada poética, o documento sequer menciona livros, poemas ou as 18 peças que ainda não tinham sido publicadas na época de sua morte. Seu funeral tampouco foi registrado com grandes demonstrações públicas de emoção, e a primeira homenagem escrita só veio justamente na capa do Primeiro Folio.
"É essa falta de conexões do homem com a obra que tem de ser abordada. Todos os autores importantes contemporâneos de Shakespeare deixaram o que se pode chamar de trilha de papel. Cristopher Marlowe é um exemplo, embora sua produção tenha sido bem menor que a do bardo. Também incomoda que um homem tão letrado como Shakespeare não tenha escrito um grande volume de cartas, ainda mais quando foi morar em Londres e deixou a família em Stratford", diz Bill Leahy.
No entanto, o próprio Leahy concorda com uma questão crucial. Diferentemente dos tempos modernos, o papel no século 16 não era um produto barato, apesar de a invenção da imprensa por Gutemberg ter derrubado em mais de 300 vezes os custos de produção de um livro. Documentos e afins eram "reciclados", o que também ajuda a explicar, por exemplo, a ausência de materiais como o histórico escolar de Shakespeare.
Isso porque para alguns acadêmicos também há um conflito de classes na discussão. Paul Edmondson, um dos diretores do Birthplace Trust e que coeditou Shakespeare Sem Sombra de Dúvida, critica o que vê como preconceito na causa oxfordiana. "O que mais me incomoda em tudo isso é termos que combater o argumento de que alguém da classe trabalhadora não poderia ter produzido literatura de alto nível. Isso não é apenas historicamente incorreto, mas preconceituso", diz Edmondson.
Coautoria
Uma das experts recrutadas para o livro foi Carol Chillington, então pesquisadora da Universidade de Warwick especializada na história do sistema educacional do Reino Unido. É dela que vem uma preciosa análise do currículo das escolas secundárias do Período Elizabetano. De acordo com seus estudos, alunos desses estabelecimentos não só tinham uma grade de disciplinas que incluía o latim, mas também uma lista de leitura de obras clássicas que hoje equivaleria a de uma ementa universitária.
Outro trunfo dos stratfordianos é uma análise feita pelo linguista David Kathman, especialista em dialetos arcaicos do inglês. Seu veredito é que os textos estão repletos de regionalismos relacionados a Warwickshire, onde fica Stratford-Upon-Avon. "Também temos análises de padrão métrico dos versos escritos por De Vere e por Shakespeare que revelam a impossibilidade de uma mesma pessoa ter escrito ambos", afirma Edmondson.
A polêmica ajudou a revelar detalhes interessantes não apenas sobre William Shakespeare, mas também sobre seus métodos de trabalho. Duas acadêmicas da Universidade de Oxford, Laurie Maguire e Emma Smith, já publicaram um estudo em que provaram que Shakespeare não escreveu sozinho a peça Tudo Está Bem Quando Termina Bem - a dupla até nomeou o escritor e dramaturgo Thomas Middleton como coautor. Smith garante que não foi um "a-rá" para os céticos, mas uma mostra de como entender a questão da autoria.
"O estudo ajuda a mostrar um quadro em que autores escreviam de modo muito mais colaborativo no Período Elizabetano do que se pode imaginar hoje. Trabalhavam de uma forma bem diferente do que imaginamos e romantizamos", afirma Smith. Mais do que celebridades, escritores do século 16 tinham um perfil mais operário, em que a quantidade ditava o ritmo. Companhias teatrais recorriam a diversos autores para chegar ao texto final de peças. E eles não tinham pudor em pegar emprestado trabalhos alheios. "A noção atual de plágio não se aplica a eras passadas. A apropriação era muito mais tolerada."
Os dois clãs concordam em um ponto: o debate não tem data para acabar. "A não ser que alguém encontre algum documento perdido, não se poderá dizer ao certo, mas nem por isso podemos deixar de questionar pontos duvidosos da versão oficial dos fatos, mesmo que firam interesses financeiros", afirma Bill Leahy.
Em 2018, com o auxílio do WCopyFind, um software anti plágio utilizado por professores para detectar colas na internet, Dennis McCarthy, um estudioso de Shakespeare e a especialista June Schlueter, descobriram que ideias e palavras de um manuscrito de 1576 são bem parecidas com as que seriam usadas por William Shakespeare décadas depois em obras como Ricardo III , Rei Lear, Henrique V, Macbeth e outras sete.
O manuscrito que inspirou o artista leva o nome de A Brief Discourse of Rebellion and Rebels ("Uma Breve Dissertação Sobre a Rebelião e os Rebeldes"), e foi escrito por George North, uma figura do século 16 que foi embaixador da Suécia e esteve presente na corte da rainha Elizabeth I. E também primo de Thomas North, que também serviu de inspiração para Shakespeare ao traduzir para o inglês a obra Vidas Paralelas de Plutarco.
Emma Smith, que não participou do projeto stratfordiano comandado por Edmondson, acredita que o questionamento tende muito mais à excentricidade do que a ameaça vista pelo Shakespeare Trust. "A reação exacerbada só serviu de munição para quem fomenta teorias conspiratórias. O meio acadêmico deveria aceitar que uma figura tão poderosa quanto William Shakespeare não teria como deixar de ser alvo de ideias de fantasia."
Obras
de William Shakespeare e suas características:
Shakespeare possui uma
vasta obra com cerca de 40 peças, divididas entre comédias, tragédias e peças
históricas, bem como poemas narrativos e sonetos.
Embora sua obra poética
seja muito conhecida, o artista adquiriu maior destaque na dramaturgia.
Durante 20 anos, abordou
temas como o amor, os sentimentos, as questões humanas, sociais, políticas,
sendo sua produção dramática dividida em três fases:
Primeira fase
(1590-1602): escreveu peças históricas, tragédias em estilo renascentista e
algumas comédias;
Segunda fase
(1602-1610): ocupou-se em escrever tragédias e comédias;
Terceira fase
(1610-1616): fase caracterizada por peças menos trágicas, de caráter
conciliatório.
Na tragédia merece
destaque as peças:
Romeu e Julieta
A Tempestade
Júlio César
Antônio e Cleópatra
Hamlet
Otelo
Rei Lear
Macbeth
Na comédia merecem
destaque as peças:
A Comédia dos Erros
Os Dois Cavalheiros de
Verona
Sonho de Uma Noite de
Verão
O Mercador de Veneza
Muito Barulho Por Nada
Cimbelino
Noite de Reis
Como Quiserdes
A Megera Domada
Nas peças históricas
destacam-se:
Ricardo II
Ricardo III
Henrique IV - Partes I e
II
Henrique V
Henrique VI - Partes I,
II e III
Henrique VIII
Rei João
Eduardo III
Na poesia destacam-se os
poemas:
Vênus e Adônis (1593)
O Rapto de Lucrécia
(1594)
Sonetos (1609)
Frases
de Shakespeare:
“Somos feitos da mesma
matéria que nossos sonhos.”
“Herege não é aquele que
arde na fogueira e sim aquele que a acende.”
“O destino é o que
baralha as cartas, mas nós somos os que jogamos.”
“O amor é a única
loucura de um sábio e a única sabedoria de um tolo.”
“Eu aprendi, que ninguém
é perfeito, até que você se apaixone por essa pessoa.”
“Aprendi que deveríamos
ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos.”
Curiosidades
sobre William Shakespeare:
William Shakespeare era católico num mundo protestante.
Visto sua influência até
os dias atuais, as peças escritas por Shakespeare são as mais encenadas no
mundo.
A
célebre frase filosófica “Ser ou não ser, eis a questão”
(em inglês “To be, or not to be, that is the question”) foi escrita por
Shakespeare na tragédia Hamlet (1599-1601).
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