ESCREVENDO UMA HOMENAGEM AOS PAIS

 



Alguns grandes autores trabalharam poesias, contos, romances e filmes homenageando os pais. 


E você, o que escreveria 

para homenagear seu pai?



As Mãos do Meu Pai – Mário Quintana

“As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos…

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas…
essa chama de vida — que transcende a própria vida…
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma…”

 

 

Distinção – Carlos Drummond de Andrade

O Pai se escreve sempre com P grande
em letras de respeito e de tremor
se é Pai da gente. E Mãe, com M grande.
O Pai é imenso. A Mãe, pouco menor.
Com ela, sim, me entendo bem melhor:
Mãe é muito mais fácil de enganar.
(Razão, eu sei, de mais aberto amor.)

 

 

O pai -Pablo Neruda

Terra de semeadura inculta e brava,
terra que não tem estreitos nem sendas,
minha vida sob o sol treme e alarga.
Pai, os teus olhos doces nada podem,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as fontes.
O mal de amor cegou a minha vista
e nesta fonte doce do meu sonho
refletiu-se outra água estremecida.
Depois… Pergunta a Deus por que me deram
o que me deram e por que depois
soube da solidão de terra e céu.
Olha, minha juventude foi broto
puro que ficou sem abrir, perdeu
sua doçura de sangues e de sucos.
O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de beijá-la… E sendo outono,
Pai, os teus olhos na podem.
Escutarei na noite tuas palavras:
menino, meu menino…
e na noite imensa seguirei
com as minhas e as tuas chagas

 

Soneto ao pai – Edival Lourenço

Oh! Fluida infância! Pátria faz-de-conta!
Pobre de coisas com riqueza d’alma:
palhoça, vento, verde, aves e calma
para fruir a vida em toda monta.

Aquele ano choveu além da conta
e abriu-se um olho d’água em nossa casa
que meu pai ajudou, com fina vaza,
fazer o arroio: do Araguaia ponta.

Encanta-me o sentido que propala.
Maior riqueza, sei, ninguém encontra:
o nascente Araguaia nos escala.

A vida tem o rio a inspirá-la:
mereja, empoça, entorna, enfim desponta
promissora qual jorro de olho d’água!

 

A voz do meu pai – Manoel de Barros

Abro os olhos.
Não vejo mais meu pai.
Não ouço mais a voz de meu pai.
Estou só. Estou simples.
Não como essa poderosa
voz da terra
com que me estás chamando, pai —
porque as cores se misturam
em teu filho ainda
e a nudez e o despojamento
não se fizeram em seu canto;
mas, simples por só acreditar
que com meus passos incertos
eu governo a manhã
feito os bandos de andorinha
nas frondes do ingazeiro.

 

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