MEU
PAI ANGELO
Antonia Marchesin Gonçalves
Quando
nasci, fazia seis meses que meu pai tinha perdido a mãe aos quarenta e seis
anos. Ele era um homem que aprendeu a respeitar os pais e por isso sofria pela
mãe, que era afetada por crises de asma, o que lhe provocava muita tosse e
falta de ar, fragilizada. Calado, assistia ao seu pai, um homem do campo
grosseiro e frio, enquanto sua mãe refinada e educada, ele totalmente
indiferente ao sofrimento da esposa, minha avó Antonia.
Por
respeito ao pai, não se rebelava e nada falava, mas sofria calado. Após a morte
dela, e minha mãe grávida e por ter já meu irmão de cinco anos, torcia para ser
menina. Assim sendo, eu, ao nascer, já me registrou com o nome da mãe, Antonia.
Demonstrou assim a sua homenagem à sua mãe. Nos anos de 1946, quando nasci, foi
uma época de pós-Segunda Guerra Mundial. Pouco tempo após o término, resolveu,
em 1049, sair da Itália e vir visitar o Brasil como turista. Tinha amigos que
já moravam em São Paulo que o incentivaram a se instalar aqui, assim foi.
Eu, com
três aninhos, ao se despedir de nós, com a promessa de logo mandar passagens,
não me lembro da despedida, lembro sim do dia em que chegamos dois anos depois,
com cinco anos. Ao vê-lo alto, bem penteado com seu bigode, a Errol Flynn, ator
americano famoso, com terno, naquela época os homens só andavam de terno. A sua
emoção ao rever a família me marcou. Passamos a conviver e aprendi que não era
de muito falar, a não ser quando tomava o seu vinho, aí sim a língua ficava
solta, principalmente sobre política, totalmente contra o comunismo.
Nunca
batia nas nossas travessuras, quando nossa mãe se queixava era com o olhar que
dizia muito, bastava um olhar e nos afundávamos na cadeira, quietinhos. Entre
as várias turbulências da vida, foi um pai presente, muito trabalhador e a
família era o seu orgulho. Sempre acolhia os amigos italianos que ia fazendo
com os anos em nossa casa, principalmente aos domingos, com almoços longos
terminando em cantoria.
Morreu
cedo, aos sessenta e quatro anos, feliz com os filhos formados e casados, chegando
a conhecer os seis netos, que o adoravam e todos guardam boas lembranças de
carinho e amor com seu jeito de pouco falar, todos sabiam que eram muito amados
por ele. Foi feliz também que teve a
alegria de voltar várias vezes para Itália e, após aposentado, quando ia, ele e
minha mãe ficavam dois meses só curtindo a sua cidade natal, Jesolo província
de Venezia.
Esse
era o meu papa Angelo.
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