Travessia de esperança - Adriana Frosoni

 




Travessia de esperança

Adriana Frosoni

 

João respirou fundo, sentindo o vento frio cortar seu rosto enquanto olhava para a ponte estreita e aparentemente frágil que se estendia sobre o rio agitado. A madeira rangia sob seus pés, e ele podia ouvir o som ensurdecedor da água correndo ferozmente abaixo. Enquanto a chuva caía torrencialmente impedindo a passagem de carros pelo único acesso ao vilarejo, cada passo que dava parecia um teste de coragem, mas ele sabia que não havia escolha. Precisava atravessar.

De trás de cada escolha difícil, há sempre uma história de superação. Para João, aquela travessia era uma jornada de esperança. Do outro lado da ponte estava o vilarejo onde sua avó morava. Ela o criara desde o nascimento, pois sua mãe morrera no parto por falta de assistência médica e seu pai o abandonou. Agora, adoentada, não lhe restava muito tempo. Ele precisava vê-la, segurar suas mãos e ouvir sua voz uma última vez.

O caminho até a ponte já fora longo e extenuante. Ele tinha deixado a cidade na madrugada com determinação feroz assim que recebeu a notícia de que a avó não teria muitas horas de vida. Foi avisado também da interdição da ponte nova e, chegando lá, dirigiu-se à ponte velha. João não se intimidou: a urgência de ver sua avó superava qualquer medo.

Enquanto atravessava, lembranças de sua infância vinham à mente. Ele e sua avó sempre foram muito próximos. Ela o ensinou a pescar, a reconhecer diferentes tipos de plantas e, acima de tudo, a valorizar as pequenas coisas da vida. Lembrou-se das tardes ensolaradas no campo, do cheiro de bolo de fubá saindo do forno, e das noites em que ela contava histórias ao pé da lareira.

Cada passo na ponte era uma mistura de temor e esperança. Ele sabia que uma queda poderia ser fatal; sentia as tábuas de madeira escorregadias sob os pés, mas o medo de falhar era maior do que o de morrer. A urgência invadia seu corpo em forma de adrenalina pura.

Finalmente, após o que lhe pareceu uma eternidade, João alcançou a outra extremidade da ponte. Sentiu uma onda de alívio e gratidão. O vilarejo estava próximo, e ele podia ver a fumaça subindo das chaminés das casas, um sinal de vida e de esperança.

Correndo como podia pelo caminho de terra enlameada, João finalmente avistou seu destino. O coração batia acelerado, não só pelo esforço, mas pela emoção. Ao entrar, encontrou-a deitada na cama com os olhos fechados. Aproximou-se devagar, pegou sua mão frágil e sussurrou: "Vovó, estou aqui."

Ela abriu os olhos lentamente, um sorriso fraco iluminando seu rosto amoroso. "Sabia que você viria, meu menino", disse ela com voz suave. E ali, naquele momento, João soube que todos os perigos enfrentados valeram a pena. Estava onde precisava estar, com a pessoa que mais amava no mundo, em um momento que seria eternamente lembrado.

Foi quando ela deu um último suspiro, apertou sua mão e partiu, como se estivesse apenas esperando por ele para descansar. No calor daquele reencontro que também foi uma despedida, João sentiu que, de alguma forma, sua avó tinha cumprido seu próprio destino de coragem, amor e sacrifício, tal como nas histórias que ela sempre lhe contava.

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