O MAU GÊNIO! - Ledice Pereira

 



O MAU GÊNIO!

Ledice Pereira

 

O fato de ficar todo contorcido dentro daquela lâmpada não era o pior para Crushy, afinal ele era contorcionista.

Fora castigado por ser antipático e rabugento, com zero paciência para com as crianças que vinham vê-lo no circo.

Para ele, elas faziam muitas perguntas, o que o irritava tremendamente:

– Por que você consegue colocar a cabeça entre as pernas?

– Como você consegue se contorcer assim?

– Você não fica com o corpo todo dolorido?

Essas e mais uma porção de perguntas, tinha que responder após cada espetáculo. E fazia isso com muito mau-humor.

O dono do circo só não o mandava embora porque ele atraia o público.

Crushy não era de família circense. Apenas havia nascido com o corpo flexível, que parecia de borracha e virava pra todos os lados.

Sem estudo, o emprego no Circo foi o único que ele conseguira.

Certo dia, estava ele lá, com sua cara de poucos amigos, maltratando a criançada, quando uma estranha mulher ficou observando seu comportamento.

O jeito como ele a encarou foi o suficiente para que ela, na verdade, uma fada disfarçada, o transformasse num pobre gênio de uma lâmpada esquecida num canto do circo.

Crushy esperneou, gritou, pediu socorro, mas a tal mulher, não se comoveu nem um pouco.

– Você vai passar seus dias aí dentro até aprender a ser um homem com H maiúsculo. Um homem que saiba como tratar uma mulher como eu e todas as crianças, sem exceção. Com alegria, respeito, paciência, sem essa sua má vontade. Lembre-se de que é a plateia que paga o seu salário.

O homem ficou ali por muito tempo. Naquela posição incômoda dentro de uma lâmpada estreita, fria, sem graça.

Se, ao menos, tivesse a fama, a importância e o dom de um Aladim...

O tempo passou, Crushy ficou mais velho, sentia falta de gente para conversar. Tinha até saudade da algazarra das crianças. A idade o havia transformado. Ele mesmo surpreendia-se. Procurou convencer a fada de que tinha se tornado um ser melhor.

A fada ficou com pena e resolveu dar uma nova oportunidade ao infeliz. Não sem antes o prevenir de que estaria atenta. Qualquer deslize e Pluft, num rápido passe de mágica, ela o castigaria.  

Livre, ele voltou a fazer contorcionismo. O tempo não havia tirado sua elasticidade. Logo passou a ser a atração principal do Circo. Vivia rodeado de crianças que queriam que ele contasse como fazia aquilo.

E pasmem, ele, agora, tornara-se o mais paciente dos homens. Até se arriscava a ensinar alguns segredos da profissão.

A fada o observava de longe.

O castigo havia surtido efeito mesmo!

Ele a procurava com os olhos, para ver se ela estava acompanhando sua transformação. Morria de medo de voltar a viver dentro daquela lampadazinha estreita, incômoda e solitária.

 

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