ENFRENTANDO
FANTASMAS
Ledice
Pereira
Nessa época do ano, a noite chegava
sorrateiramente, às cinco da tarde, tingindo de escuro tudo por onde passava.
Eric estava ali, sozinho,
preso naquela mata.
À sua frente, uma pequenina
ponte construída pela pobre população do lugar, desde que aquela, que parecia
uma fortaleza, havia sido levada pela tempestade.
Era atravessar, ou
permanecer ali, noite adentro, enfrentando todas as intempéries que viessem,
chuva, animais noturnos, cobras, sapos e outros “fantasmas”.
Tinha pouco tempo para
resolver, não dava para pensar muito.
Resolveu criar coragem e
arriscar. Era aquela coisa de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Sem
mais uma alternativa.
Fotografou, pensando em
registrar o momento. Rezou para todos os santos. Foi.
O balanço da ponte o assustava
e o nauseava. Uma mistura de medo e mal-estar. Tinha que encarar. E a noite
vinha. Precisava apertar o passo.
Tentava controlar tudo.
Medo, o peso da mochila, o importante era olhar para a frente e esquecer os
ruídos da floresta e os respingos do riacho, batendo fortemente nas pedras, molhavam
suas pernas. Procurava pisar pé ante pé, mais lentamente do que o necessário.
A cigarra entoava sua canção estridente,
despedindo-se da vida até estourar.
As abelhas o rodopiavam, enquanto
corujas iniciavam seus pios alarmantes.
Tudo tomava proporções
gigantescas. A pequena ponte resistiu ao seu peso e ao peso de seus pensamentos
negativos.
Os poucos minutos pareceram muitas
horas.
Chegou ao outro lado, suando
como se tivesse atravessado quilômetros.
Não havia ninguém ali.
Apenas uma luzinha longínqua o direcionou. Era uma taberna bem simples onde
alguns homens bebericavam. Pediu um copo d’água. Sentou-se. Tremia ainda. Continuava
apavorado. Pediu algo mais forte. Serviram-lhe uma dose de cachaça que tragou
num só gole.
Ao perguntar onde poderia pernoitar, indicaram
uma modesta hospedagem, pertencente a um pescador local para onde se dirigiu. Uma
sopa rala de Tambaqui lhe foi servida e o aqueceu. Indicaram-lhe a cama. Sentiu-se
acolhido. Deitou-se e rapidamente adormeceu.
Ao acordar, estava renovado,
tomou café e seguiu viagem.
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